Hoje choro! Sinto uma perda irreparável. Quando somos miúdos, um pouco mais novos do que sou, sonhamos alto. Não há ninguém em nenhum momento que nos avisa que sonhar alto, sonhar o mais alto que podemos aumenta o tamanho da desilusão. Há quem ache que está subentendido, mas um letreiro a avisar, à medida que nos aproximamos do sol, teria sempre melhores resultados. O que acham que se sente em Ibagué, entre o Cañón del Combeima e o Valle del Magdalena, ali perto de Tolima? Sonhamos com isto. Sonhamos jogar pela Seleção, jogar pela Seleção no Mundial, ir longe pela Seleção num Mundial, jogar a final com a Seleção num Mundial, levantar a Taça pela Seleção na final do Mundial. O que acham que se sente aos 22 anos a jogar os quartos de final Com as vitórias, começamos a acreditar que somos invencíveis, e até admito que teria de ser um letreiro bem grande à nossa frente, em verde de amarelo, e nas mãos do maluco do David Luiz, para nos amarrar ao relvado. Hoje choro, mas enquanto muitos de vocês acham que perdi, na verdade ganhei. E ganhei em campo. Não no marcador, mas no respeito. Ganhei ao mudar o âmbito desta crónica, ao fazer o seu autor arranjar uma exceção. Hoje, não é vosso cicerone um coitadinho. Não sou um derrotado. Acabo vencedor. Ganhei porque saio do Brasil como melhor marcador. Seis golos e duas assistências, em cinco jogos. Saio do Brasil como maior promessa do futebol mundial. Saio do Brasil com o adversário a pedir aplausos, saio com o mundo a falar em mim. Saio, mas toda a gente vai dizer e escrever que merecia ter ficado. E perdi! Fui a classe que vêem em mim. Fui massacrado com faltas e levantei-me sempre. Peguei na bola, tabelei, joguei, fintei. Tive o meu momento de génio que um Cuadrado mais arredondado teria aproveitado, e depois assisti para o penálti que me seria entregue para marcar. Não há ninguém que diga, em consciência, que não joguei bem. Ninguém que diga que, no dia do meu adeus, falhei. Este Mundial teve muito de mim. E ninguém vai esquecê-lo tão cedo.

«Não crucifiquem mais o Barbosa» é um espaço de opinião/crónica da autoria de Luís Mateus, subdiretor do Maisfutebol, que aqui escreve todos os dias durante o Campeonato do Mundo.    É inspirado em Moacir Barbosa, guarda-redes do Brasil em 1950 e réu do «Maracanazo». O jornalista é também responsável pelas crónicas de «Era Capaz de Viver na Bombonera», publicadas quinzenalmente na    MFTotal. Pode segui-lo no    Twitter ou no    Facebook   .