Tenho um país inteiro contra mim. Um mar verde e amarelo. E os nossos vizinhos argentinos, que deveriam ter mais com que se preocupar, a apoiar-me. Querem que continue a ser um pino. Aqueles cones laranja e branco que só atrapalham, não ajudam ninguém. Esses pinos! A minha sorte tem sido o Jô! O Jô, pô! Quando entra ainda é pior do que eu. O predestinado, era assim que me chamavam. Ah, pois é! Pre-des-ti-na-do! Não é para qualquer um. E não se arrependeram. Pelo menos, não recebi reclamações das adeptas. Também era o Fredgol muitas vezes, ou o Don Fredon. Mas hoje só olham para mim como o Freddy Krueger. Não se lembravam dessa ? Como é que eu podia esquecê-la?  Vamos parar com isto! Sou eu, simplesmente o Fred. Como está, senhorinha? Tudo bom? Não dou beijo na boca há nove meses... Pois... Marquei o golo mais rápido da história do nosso futebol, do meio-campo. Lembram-se? Foi na Copa São Paulo Júnior, e a bola entrou na baliza do Vila Nova sete décimos depois dos três segundos. Um golaço! Go-la-ço! Depois, um árabe teve mais pressa do que eu e o golo que marcou a minha vida deixou de ser o mais precoce de sempre. Fui ídolo da Raposa, ganhei e perdi com o Carew na luta pela nove do melhor Lyon de todos os tempos, até que chegou o Benzema e não deu para ficar mais. No Flu fui Rei das Laranjeiras. Ouviram Rei! Não foi príncipe. Foi rei! É esse Freddy Krueger que agora assobiam. One, two, Freddy is coming for you...O Mano não queria ponta de lança e agora que o Scolari quer apanhou-me numa forma um pouco menos boa. Mas só no gramado. No resto, estou fantástico! Lembram-se da cantada que dei na Isazela no meio da rua? Rolou selinho e tudo. Se-li-nho! Ah, e depois não é fácil ser pino quando é o Neymar, o Oscar ou o Hulk que te passam a bola! Bem... Bem, o Hulk e o Neymar não passam mesmo. Pronto, não é fácil ser pino quando o Oscar não te passa a bola. Felipão, não vai nessa. Não mete lá o minino Neymar não. Depois, qual é o pino que vai arcar com todas as culpas ?

«Não crucifiquem mais o Barbosa» é um espaço de opinião/crónica da autoria de Luís Mateus, subdiretor do Maisfutebol, que aqui escreve todos os dias durante o Campeonato do Mundo.   É inspirado em Moacir Barbosa, guarda-redes do Brasil em 1950 e réu do «Maracanazo». O jornalista é também responsável pelas crónicas de «Era Capaz de Viver na Bombonera», publicadas quinzenalmente na   MFTotal. Pode segui-lo no   Twitter ou no   Facebook   .