O que é que ouvimos dezenas de vezes nas palestras, Vincent? Onde nos põem quando somos aqueles ímans colados aos quadros táticos. Se o ponta de lança está ali, onde temos de estar? Eu sei que tu sabes, não és maçarico, não nasceste ontem! Se fosse o chato do teu ex-treinador, o Mancini, perceberia a falta de atenção, mas este misterUm erro paga-se tão caro! Um erro! O Higuaín não estava bem, a Argentina joga pouco, mas não podíamos confiar. Não podíamos deixar que se afastasse a pensarmos que levava com ele o perigo para longe. Um ponta de lança amigo não existe. Nada disso! Não era o Messi, eu sei. O Lavezzi é bem mais irrequieto, sem dúvida. E o Di María tem a mania que é uma enguia, daquelas bem escorregadias, e foi a única vez que não nos quis fintar. Não era nenhum deles e o Pipita não anda bem. Parece triste. Mas nada disso justifica termos ficado a olhar, termos ficado para trás. Tantos metros para trás. Nem temos a desculpa de estarmos tapados pelo Witsel e pelo Fellaini, e não conseguirmos ver nada por entre aquelas cabeleiras. Nem isso nos vale. Tivemos azar também. O Messi estava vigiado, o Angelito tentou uma assistência às três tabelas e meteu a bola branca à disposição de quem ainda não tinha marcado um golo neste Mundial. A tacada foi fatal. Bola ao canto, sem avisar. Mas tem algum cabimento? Faz algum sentido que um avançado que anda com o moral a rastejar no tapete remate de primeira, aos oito minutos, e marque um golo ao Courtois? Ao Courtois? Ao melhor do mundo! Pelo menos, quando o Neuer não joga. Já sabes que este teu amigo é fã! Ele virou-se e rematou, quais são as probabilidades? E isso marcou-nos. Uma Argentina fria, sem chama, começou a ganhar-nos a nós, que temos tanta explosão, sem fazer nada para nós e o mundo ficou automaticamente ao contrário. Tudo começou a correr mal. E nós também temos tanto talento. Mesmo assim, os deuses, justos, não quiseram que o Pipita se trasvestisse de Maradona, e voltaram a tornar Messi humano naqueles últimos minutos. Mas o mal já estava feito. Repete comigo, Vincent, a ver se aprendemos: um ponta de lança nunca é nosso amigo!

«Não crucifiquem mais o Barbosa» é um espaço de opinião/crónica da autoria de Luís Mateus, subdiretor do Maisfutebol, que aqui escreve todos os dias durante o Campeonato do Mundo.       É inspirado em Moacir Barbosa, guarda-redes do Brasil em 1950 e réu do «Maracanazo». O jornalista é também responsável pelas crónicas de «Era Capaz de Viver na Bombonera», publicadas quinzenalmente na       MFTotal. Pode segui-lo no       Twitter ou no    Facebook   .



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