«Éramos muito jovens. Queríamos comer o Mundo - e comemos»
(Pep Guardiola sobre Tito Vilanova)


«Meu Brasil Brasileiro, Verde, amarelo, preto, branco e vermelho. Somos um povo alegre com samba no pé, e é com alegria e ousadia que a gente tem que se manifestar. Olha a banana, olha o bananeiro… sou baiano, sou brasileiro… estamos mais fortes do que nunca, o sorriso é a nossa proteção, a musica é a nossa espada… Nos vemos na Copa… Estamos juntos!! #deusnocomando #somostodosmacacos #danidobrasil #amadajuazeiro»
(Dani Alves, reação no twitter ao episódio da banana)


«Era daquelas figuras tão especiais que pensamos que nunca vão desaparecer»
(Álvaro Costa sobre Hernâni Gonçalves, o «Bitaites»)



Os últimos dias foram de emoções fortes no futebol português e fora de portas.

As mortes, ambas a 25 de abril, de Tito Vilanova e Hernâni Gonçalves fizeram-nos lembrar que mesmo num mundo tendencialmente agressivo e competitivo como o do futebol, há personagens que conseguem gerar um sentimento generalizado de simpatia.

Tito era aquele caso de alguém que não parecia ter o perfil para chegar a treinador principal do Barcelona, mas que mostrou ter capacidade para o executar, quando a oportunidade surgiu.

A passagem de testemunho de Guardiola para Vilanova primeiro gerou estranheza, mas em pouco tempo passou a ser natural.

Mas o destino é capaz de fazer as fintas mais improváveis e inexplicáveis. Quando Tito parecia ter tudo para «comer o Mundo» sozinho, depois de o ter feito como número dois de Guardiola, os primeiros sinais da doença foram-no afastando de um trabalho regular.

Pep tinha com Tito uma relação que ia muito para lá de antigos treinador principal e adjunto de um corpo técnico de uma equipa de futebol: «Depois da morte de Tito, a minha vida nunca mais será a mesma», confessou Guardiola, depois da goleada com o Werder Bremen, 5-2, na qual não festejou um golo sequer do seu Bayern.

Entre a chuva de pêsames pela morte de Vilanova, retive também a de José Mourinho. Pelo que acontecera, há uns anos, entre o então treinador do Real Madrid e Tito, então pouco conhecido adjunto de Guardiola, no final de um escaldante duelo entre Barça e Real.

Porque as palavras de Mourinho me pareceram sinceras. No passado, quando Tito ainda travava a última batalha da sua vida. o técnico português já havia colocado um ponto final em divergências que pudessem persistir com Vilanova. 

O «prof. Bitaites» é outro caso singular. Difícil encontrar no mundo do futebol alguém idêntico: era divertido, inteligente, culto, espirituoso. Por vezes provocador, mas sempre elegante. Nunca ofensivo, nunca radical. Era alguém que sabia escolher o lado positivo e mais frutuoso da vida. 

De Hernâni Gonçalves lembro muita coisa, mas sobretudo dois momentos

Quando era preparador-físico do FC Porto, em equipa técnica liderada por António Oliveira. Na época do quarto título consecutivo do FC Porto (antes do penta de Fernando Santos),o já saudoso «Bitaites» deu a cara em várias conferências após os jogos, devido à opção de Oliveira de «blackout», o professor, já em off, acabava sempre com um divertido... «Habemus Papa e Habemus Tetra!», tão grande era o avanço pontual dos dragões.

O outro momento de Hernâni Gonçalves que para sempre vou reter na memória são as emissões da «Liga dos Últimos», numa dupla com Álvaro Costa que não encontrará par semelhante. Humor com arte, loucura em doses saudáveis, de gente feliz sem medo de verter lágrimas.

Logo a seguir à tristeza de ver partir Tito e Hernâni Gonçalves, surgiu o caso da banana atirada a Dani Alves por um adepto do Villarreal. Reação fantástica do lateral brasileiro, que pegou na banana e começou a comê-la. E resposta ainda melhor, mais tarde, nas redes sociais, com a solidariedade enérgica e divertida dos colegas de profissão, mesmo de clubes e seleções rivais.

Outro bom sinal foi a punição exemplar do adepto que cometeu ato desprezível: banido para sempre do estádio do seu clube.

Exemplos que provam que o futebol também tem lágrimas e raça. Isso mesmo, raça: daquela que não se deteta pela cor da pela, mas pela atitude. 


«Nem de propósito» é uma rubrica de opinião e análise da autoria do jornalista Germano Almeida. Sobre futebol (português e internacional) e às vezes sobre outros temas. Hoje em dia, tudo tem a ver com tudo, não é o que dizem?