O meu pub em Hammersmith». A esta zona da cosmopolita Londres chega gente de todo o mundo. Enquanto se bebe uma pint, fala-se de desporto: futebol, basquetebol, ténis, Fórmula 1, o que for. Depende de quem passa pela porta. O consumo é obrigatório e as bebidas nunca são por conta da casa. Aqui também se pode falar da NFL, mas se alguma vez se proferir a palavra «soccer» fica o aviso: Woody, o cozinheiro, tem cara de Vinnie Jones e andou na escola do Cantona. Ah, e é primo do Roy Keane. Cuidado...

No outro dia dizia aqui a um Xeneize no pub: Tenho para mim que Juan Roman Riquelme é o tipo mais sacana que alguma vez pisou um campo de futebol.

E de sacanas percebo eu. Há um atrás de cada bar!

Mas de volta a Riquelme, esse Maradona triste como lhe chama um cliente chamado Madureira.

Não há nada mais humilhante que uma cueca de sola.

Aliás, só o termo cueca é tão humilhante que há uma espécie de pudor de não o escrever nos jornais, se nunca reparou. Parece mal, falta de respeito. Por isso usam-se expressões simpáticas, como túnel, ou pelo meio das pernas. Mas o futebol é da rua, e da rua é o futebol de Juan Roman. Na rua toda a gente sabe o que é uma cueca, tanto assim é que ela vale logo a dobrar nos meiinhos e vale, sei lá, por dez anos para os intervenientes. A rua deixa marcas e a cueca também. Se for de sola, uma Riquelmada, será ferida profunda.

Olhem esta de Salvio:



Como qualquer dono de bar, gosto sempre de uma boa aposta. E aposto que esta Riquelmada nunca mais saiu da cabeça do argentino do Benfica.

Aposto também que do outro lado, Juan Roman sorriu por uma vez. Ninguém viu, claro, porque o 10 do Boca não tem músculos na cara. Só assim se explica a mesma expressão, a cara de sempre quando faz um caño, bate um livre de antologia ou falha um pénalti decisivo.

Volto ao termo: Riquelmada! É a coisa mais humilhante que há no futebol, porque destrói por completo um adversário, como se ele ficasse nu e todo o estádio se estivesse a rir dele, com o último anel à gargalhada.

Riquelme pode não ter sido o inventor, mas é, provavelmente, aquele mais vezes meteu cuecas de sola nos rivais. E se uma cueca é humilhante, de sola é ainda pior. Que o diga Yepes!



Por isso, Riquelme é um sacana. Quando aperfeiçoou tudo isto, tornou-se num tipo desprezível. Acho até que deve haver um manifesto anti-Riquelme! Para todos podermos dizer que, como o Dantas, Riquelme cheira mal da boca! Riquelme é um irresponsável porque não pensou no que podia acontecer não a quem sofre uma Riquelmada, mas a quem a comete.

Já viram o que era um benfiquista fazer uma cueca de sola a Rui Costa, um sportinguista a Balakov ou um portista a Deco?

Como é que um tipo reage? Rir não pode, haja respeito! É o maestro, é Bala, é o mágico!

Pede-se desculpa...

Mas levantar um braço ou juntar as mãos é assumir aquilo que se fez. Pior só mesmo pronunciar perdão.

Por isso é que Riquelme é desprezível. É que ele era capaz de fazer aquilo a Maradona, ou a Messi, e sair com a mesma cara de nada.

Já nós, os imitadores, ficamos na dúvida, olhamos um ídolo nos olhos e hesitamos entre o perdão e não dizer nada. Porque não dizer nada é abstinência. E isso simplesmente não pode ser.

Por isso, só temos uma saída. Fazê-lo de um modo ainda mais perfeito que Riquelme, fazer melhor, de um modo a que um ídolo perceba que não tinha hipótese nenhuma, porque fazer melhor do que Riquelme é atingir a perfeição e até um Rui Costa, um Balakov ou um Deco saberão reconhecer.

Ou seja, se esse ser desprezível que é Riquelme faz isto:



Nós, imitadores, só temos uma solução: pregar um par de bandarilhas no tipo e gritar olé!

O meu pub em Hammersmith» é um espaço fictício e de opinião do jornalista Luís Pedro Ferreira. Pode segui-lo no Twitter.