«CHUTEIRAS PRETAS» é um espaço de Opinião do jornalista Pedro Jorge da Cunha. Pode seguir o autor no Twitter. Calce as «CHUTEIRAS PRETAS».

Os petrodólares e os gasorublos compram futebolistas deste e de outros mundos, não compram memórias. Sentem-se à mesa com um adepto do PSG e apreciem o vazio de cada «E lembras-te daquele jogo em…?». Claro que se lembra. Foram todos ontem.

Já sabemos que os emires, os magnatas e os investidores Al-qualquer coisa só aceitam ganhar. A qualquer preço. E a esses pouco importa se o clube foi fundado em 1970 ou em 1893. Para eles apenas os patrocínios chorudos e a exposição mediática fazem valer a pena estas paixões assolapadas por emblemas que antes viam à distância de dois continentes.

Despejar dinheiro para o futebol significa despejar dinheiro numa imagem internacional. E essa fórmula só funciona através de vitórias e nomes sonantes com as camisolas 9 e 10. Legítimo? A FIFA diz-me que sim; a tradição, as lendas e o espírito do futebol dizem-me que não. Manda quem pode.

Menciono o PSG, como podia mencionar o Manchester City, dois dos sete possíveis adversários do FC Porto na Liga dos Campeões. Têm grandes equipas de futebol profissional? Sim, têm. São clubes de dimensão superior ao FC Porto? Não, não são.

Em conversa com camaradas da redação (virtual, por estes dias) tentei definir os critérios que definem a dimensão de um clube de futebol. Cheguei a algumas alíneas que me parecem indiscutíveis:

a) Número de troféus nacionais e internacionais

b) Implantação social - quantidade de sócios e simpatizantes

c) Qualidade das infraestruturas desportivas – estádio e centro de treinos

d) Ano da fundação e ligação histórica ao país

e) Nível da equipa de futebol

Se somarmos a + b + c + d + e, onde fica o FC Porto neste grupo de oito candidatos à glória europeia? Seguramente à frente de PSG, Manchester City e Chelsea, epifenómenos do século XXI e do futebol mercantilista; talvez atrás de Real Madrid (24 troféus internacionais), Bayern Munique e Liverpool (14 para cada um); provavelmente acima do Borussia Dortmund, respeitável ancião (fundado em 1909) que sobrevive na incómoda sombra do Bayern (oito títulos de campeão alemão e três troféus internacionais).

Conclusão: o FC Porto está mais do que habilitado a frequentar os quartos-de-final da Liga dos Campeões. Não pode entrar diminuído ou desresponsabilizado. A história e a dimensão obrigam-no a jogar olhos nos olhos e a lutar pelas meias-finais. Um século de vida pesa mais do que um orçamento inferior.

Em casa dos meus avós maternos, passei anos a sentar-me na mesa dos miúdos. Os adultos de um lado, depois um pequeno espaço e a seguir a mesa dos putos. Aos 15 anos, já com a acne a espatifar-me a cara e um buço debaixo do nariz, ganhei coragem e exigi igualdade de tratamento: «Hoje sento-me ao lado do meu pai.» Nunca mais perdi o lugar.

O FC Porto passou a sentar-se à mesa dos grandes em 1984. 37 anos depois já não tem o direito de voltar para trás. Mesmo que as refeições estejam cada vez mais caras.

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