Já perdi a conta de quantas vezes falei e escrevi 'mea-culpa' nos últimos dias. Arrisco dizer até que ando muito perto de banalizar uma expressão fundamental no jornalismo. O uso talvez seja desmedido, mas altamente necessário.

Doa a quem doer, nós, jornalistas e/ou comentaristas, somos formadores de opinião. Estamos no leque de agentes esportivos. Intervenientes da bola. A nossa responsabilidade provavelmente é mais importante do que a exigida imparcialidade.

Não despedimos treinadores, mas influenciamos na decisão. Não compramos, emprestamos ou vendemos jogadores, mas ajudamos na valorização. Não agredimos fisicamente ninguém, mas verbalmente incentivamos o ódio.

Não entramos em campo, mas, sem qualquer tipo de soberba ou prepotência, também temos impacto no resultado do futebol, dentro e fora das quatro linhas. Direta ou indiretamente, uns mais, outros menos.

O exercício constante da autocrítica é o que nos permite reconhecer erros e exageros. Da perseguição ao polêmico e decisivo Taremi ao oba-oba com o talentoso e promissor António Silva. Das discussões culturais e regionais às insinuações de falta de isenção na arbitragem.

Temos parcela de culpa quando um jovem torcedor é obrigado a tirar a camisa do clube do coração dentro do estádio ou um pai desrespeitoso é expulso da arquibancada por ignorantes com a pequena filha ao colo. Quando um jogador de apenas 18 anos é capa de jornais, passa rapidamente a ser visto como novo Cristiano Ronaldo e, no «dia seguinte», cai no esquecimento.

A comunicação social não te dá um fardo que você não possa carregar. Parte do poder no esporte mais apaixonante do mundo está nas nossas línguas e mãos. Chorar o leite derramado é muito fácil.

* Bruno Andrade escreve a sua opinião em Português do Brasil