Portugal vai ao playoff de apuramento para o Mundial 2022. Quer isso dizer que acabou de aumentar exponencialmente o risco de falhar pela primeira vez uma grande competição desde 2000. E é bom lembrarmo-nos da viagem que nos trouxe até aqui, desde esse Europeu.

A Holanda ainda podia ser Holanda e não Países Baixos, a Geração de Ouro vivia os seus melhores tempos, as camisolas vestiam-se largas, as chuteiras ainda eram quase todas pretas e o nosso futebol era sexy.

A Geração de Ouro também tombou com estrondo na fase de grupos do Mundial 2002. O que faz desse episódio a maior desilusão desportiva até agora.

Eu sei, perdemos um Europeu com uma final em casa frente à Grécia e ainda nos lembramos todos de como isso doeu. Mas a Geração de Ouro chegou à Coreia do Sul em 2002 com uma grande promessa que não cumpriu. Por outras palavras, em 2004, a seleção falhou no último jogo, em 2002, falhou logo no primeiro, no terceiro e nem chegou ao quarto…

Falou-se muito, nessa altura, da preparação para o Campeonato do Mundo. Também aí era urgente evoluir, até porque seguia-se o Euro 2004. Fizemos muita coisa bem nesse campeonato da Europa. Fizemos grandes jogos frente a Espanha, Inglaterra e Holanda. Faltou-nos a Grécia, mas foi a ilusão que nos venderam selecionador e equipa, entre jogos com os gregos, que nos aumentou a dor. Falhámos no resultado final, mas não no resto.

Em 2006, éramos já uma seleção tão estabelecida que nos respeitaram no torneio alemão. Menos a Holanda, que nos tentou tirar do Mundial à patada. O que vale é que respondemos mais ou menos na mesma moeda e só a França, a nossa maldita França, nos impediu de ir à final. A equipa foi recebida em festa no Jamor, lembram-se?

Entre 2008 e 2014 não fomos brilhantes, mas a consolidação de Portugal como potência europeia levou-nos a umas meias-finais em 2012. A ambição de Cristiano Ronaldo tratou de ganhar-nos jogos várias vezes durante esse tempo.

Pelo meio, o futebol português tratou de trabalhar nos gabinetes. Também se fazem coisas bem por lá, não se engane. A introdução das equipas B na II Liga foi o impulso que uma formação já de si boa necessitava, e enquanto a seleção ganhou o Euro 2016 em campo, na UEFA e na FIFA a federação ganhou peso. Chegara ao fim a desculpa do «somos muito pequeninos» (eis porquê).

Portugal conta no mundo do futebol e conta ainda mais no futebol de países. Tem uma escolha de jogadores que atuam por Manchester United, Manchester City, Atlético Madrid, Liverpool, PSG, Roma, entre outros. Muitos deles são os melhores jogadores desses clubes. São, portanto, os melhores dos melhores.

Mas é incrivelmente inverso à sua capacidade o futebol que têm praticado quando jogam juntos. A qualidade individual tem feito mais pela seleção do que a qualidade coletiva. Isso e o facto de Ronaldo continuar a trazer-nos resultados com golos que ele ainda consegue marcar.

O jogo em Dublin na quinta-feira foi demasiado pobre e o duelo com a Sérvia «foi péssimo».  Disse-o Bernardo Silva, pensou Portugal inteiro.

Porque há uma expectativa sobre o jogo da seleção que ficou por cumprir. Frente à Sérvia e demasiadas vezes nos últimos tempos. Ao ponto de estarmos, agora, na possibilidade de um cenário pior que em 2002: a de uma das mais brilhantes gerações de futebolistas de uma das mais importantes seleções do planeta não estar sequer no maior palco da Terra. O mundo está cheio de talento desperdiçado. Esta seleção também. E a pausa silenciosa do selecionador quando foi questionado sobre o porquê deste talento não jogar melhor junto foi elucidativa.