PLAY é um espaço semanal de partilha, sugestão e crítica. O futebol espelhado no cinema, na música, na literatura. Outros mundos, o mesmo ponto de partida. Ideias soltas, filmes e livros que foram perdendo a vez na fila de espera. PLAY.

 SLOW MOTION:


«18Team» - de Juan Rodriguez Briso  
Em 1993, o avião que transporta a seleção da Zâmbia para o Senegal despenha-se a 500 metros da costa do Gabão. 18 futebolistas internacionais perecem na tragédia.

Os seus nomes: Efford Chabala, John Soko, Whiteson Changwe, Robert Watiyakeni, Eston Mulenga, Derby Makinka, Moses Chikwalakwala, Wisdom Mumba Chansa, Kelvin "Malaza" Mutale, Timothy Mwitwa, Numba Mwila, Richard Mwanza, Samuel Chomba, Moses Masuwa, Kenan Simambe, Godfrey Kangwa, Winter Mumba e Patrick "Bomber" Banda.

Neste obituário estelar não está Kalusha Bwalya. A maior figura da equipa é, à época, atleta do PSV e não é convocado. Sobrevive à hecatombe e assume, em solidão no grau zero, a reorganização de todo o futebol da Zâmbia.

18 anos e alguns meses depois, a dois quilómetros do local da queda, a Zâmbia é coroada pela primeira vez campeã africana. Na grande final, contra a Costa do Marfim, tudo decidido no desempate por grandes penalidades.

Adivinha quantos pontapés de castigo máximo foram marcados? Se está a pensar 18, parabéns. É isso mesmo.

O documentário do espanhol Juan Rodriguez Briso recupera a caminhada dos Chipolopolo, da morte à glória. Uma película já carregada de prémios internacionais.
 
PS: «A Ponte dos Espiões» - de Steven Spielberg
Exercício inspirado de um realizador clássico. Cinema adulto, maduro, sustentado numa história verídica fortíssima. Tom Hanks – sempre competente – é o advogado James B. Donovan, especialista na defesa de agências seguradoras e celebrizado pelo trabalho no famoso julgamento de Nuremberga.

Speilberg filma com classe e mestria a Berlim do pós-guerra. Aparentemente evoluída no lado ocidental, arrasada atrás do Muro, na secção oriental. Negociações, intriga, jogos tensos entre a intelligentsia norte americana e soviética. O apogeu da Guerra Fria.

Muita atenção ao trabalho do ator Mark Rylance, na pele do espião Rudolf Abel. Um regresso fantástico de Spielberg, após Cavalo de Guerra (2011) e Lincoln (2012).
 

SOUNDCHECK:

«MORE THAN A GAME» - de Towe Jaarnek e Peter Joback

Ao assistir ao sorteio para o Euro2016, lembrei-me do meu verão dos 14 anos e do futebol que devorei nesse mês de junho. O Campeonato da Europa de 1992 não teve Portugal, mas teve uma Dinamarca sublime e muitos jogos inesquecíveis.

Foi um torneio sui generis, com a presença de seleções com designações surpreendentes (Comunidade dos Estados Independentes, alguém se lembra?) e futebolistas apaixonantes. Foi no Euro92 que ouvi falar, por exemplo, de Denis Bergkamp pela primeira vez.

Esta música fazia parte do meu dia a dia e da programação da televisão portuguesa. Um tesourinho razoavelmente deprimente. Encontrei-o na internet e o vídeo é composto por imagens de futebolistas portugueses. Não me perguntem mais nada.
 

PS: «B’Lieve I’m Goin Down» - de Kurt Vile
Sexto álbum de estúdio após a saída dos The War on Drugs. Trabalho gravado em dez estúdios diferentes, heterogonia sonora facilmente identificável. Enriquecedora, claro. Há banjo, piano, instrumentos de sopro, e a voz malandra de Vile a soar como nunca.

O rapaz de Philadelphia fez-se homem, abranda a intensidade rock e deambula por caminhos folk. É um dos bons discos de 2015, especialmente por ter a belíssima «Wheelhouse» e a viciante «Pretty Pimpin».  


VIRAR A PÁGINA:

«NOCHES EUROPEAS» - de João Nuno Coelho e Miguel Lourenço Pereira

Um livro português a brilhar no mercado espanhol. Tal como nos campos de futebol, no mercado livreiro nada é impossível. Os autores – o sociólogo João Nuno Coelho, enciclopédia viva, e o jornalista Miguel Lourenço Pereira, radicado em Madrid – estão de parabéns.

Não só pelo sucesso no desbravar de terreno quase desconhecido, mas principalmente pela qualidade e rigor com que nos presentearam nesta obra. Uma empreitada longa, pesada, recheada de informação e memória. Boa memória.

Noches Europeas – uma atualização do Noites Europeias, lançado em 2013 apenas em solo nacional – é a história das competições europeias de clubes entre 1897 e 2015 e o resultado de uma busca incessante por informação anteriormente indisponível.

Esta versão revista e ampliada reúne dados objetivos, estórias que se pensavam esquecidas, mas também uma verdadeira lição de História. E assim ficamos também a conhecer um pouco mais sobre a Europa. Pela mão do futebol.    

«PLAY» é um espaço de opinião/sugestão do jornalista Pedro Jorge da Cunha. Pode indicar-lhe outros filmes, músicas e/ou livros através do e-mail pcunha@mediacapital.pt. Siga-o no Twitter.