PLAY é um espaço semanal de partilha, sugestão e crítica. O futebol espelhado no cinema, na música, na literatura. Outros mundos, o mesmo ponto de partida. Ideias soltas, filmes e livros que foram perdendo a vez na fila de espera. PLAY.

SLOW MOTION:

«THIS IS EIBAR»

O Tirone vivia dentro de um pombal. Separado das aves por um compartimento de desenrasque. Uma espécie de beliche. O pombal ficava no campo de futebol. O Tirone marcava as linhas, lavava equipamentos, fazia recados, ajudava no bar e tinha sempre uma palavra amiga.

Nunca me esquecerei dele, daquela face marcada por evidências que assustavam. Diziam que tinha ido à guerra e voltado diferente. Trabalhara depois num circo, a fazer de palhaço durante a semana e malabarista aos sábados e domingos. 

O clube onde joguei era o que era muito por culpa do Tirone e do Toninho.

O Toninho não falhava um treino. Muito menos um jogo. Vestia o fato de treino e seguia-nos para todo o lado. Engraxava chuteiras, enchia as garrafas, apanhava bolas e tudo o que fosse preciso. Chamavam-lhe roupeiro, mas para mim sempre foi um craque decisivo nas nossas vitórias. E foram muitas.

Falo deles porque representam na exata medida as personagens que enobrecem os clubes mais pequenos. Só pessoas simples e apaixonadas pelo emblema são capazes de suportar horários tardios, chuvadas e deslocações penosas por amor ao clube e aos jogadores que têm a sorte de o representar.

O meu clube podia muito bem ser o Eibar, mas era ainda mais pequeno. Na liga espanhola nunca antes houvera uma cidade de tão pequena dimensão. São 27 mil pessoas para um estádio com capacidade para cerca de cinco mil. Isto, num campeonato que tem os gigantes Real Madrid e Barcelona.

O Eibar é o lilliputiano visitado pelo Gulliver semana sim, semana não. Este documentário apresenta o clube e as personagens que dele fazem parte. Os Tirones e os Toninhos que tudo dão, quando nada mais têm para oferecer. 

Falo do SD Eibar, um clube que esperou 74 anos para chegar ao topo da pirâmide do futebol espanhol, como podia falar do portuguesíssimo Moreirense. Ou até do Tondela, tão perto que está de subir à I Divisão.

Respeito imensamente clubes de pequena dimensão e alma incalculável. Essa alma é o caráter genuíno de quem ajuda por paixão, por devoção, por amor. No campeonato português há outros exemplos no passado, claro. Campomaiorense, Amora, O Elvas, tantos...

Este é o futebol dos pequenitos. Aplaudo-o e encho-o de elogios.



PS: «Game of Thrones» - de David Benioff e D.B. Weiss.
Dragões sobrevoam Meereen; monstros desalmados caminham para a Muralha; o Regicida enfrenta a morte do pai, assassinado pelo anão mais genial da história da televisão; a filha mais nova de Ned Stark ruma a Bravos; um auto-intitulado Rei ambiciona Winterfell e todo o Norte.

A quinta temporada da série que nos coloca dentro do mundo criado por George R. R. Martin arrancou esta semana. Mais personagens, mais batalhas recriadas até à perfeição, mais intriga, sussurros traidores e atos de sublime heroísmo.

Uma das novidades prometida (e cumprida) pela produção é a apresentação de Dorne, no sul de Westeros. As cenas neste país ficcionado foram filmadas na Andaluzia. Estão preparados para mais umas horas de irresistível vício? 

     


SOUNDCHECK:

«RUMMENIGGE» - de Alan and Denise.


Karl-Heinz Rummenigge foi um ponta-de-lança tremendo. 95 vezes internacional pela RFA (45 golos), mais de 300 jogos ao serviço do Bayern Munique, um homem viciado nas balizas contrárias.

Rummenigge acompanhou o Bayern à cidade do Porto, comandando a comitiva, e terá feito um discurso marcante após a derrota por 3-1, já no hotel onde os alemães estavam instalados.

Curiosamente, esta música estava guardada nos meus arquivos, prontíssima a ser publicada. É de 1983 e dedicada a um Rummenigge ainda jovem e estrela no futebol germânico. Com joelhos sexy, sabe-se depois de escutar a música.

Perder contra o FC Porto não deve ter caído nada bem, mas as coisas podem sempre piorar. Basta ouvir esta horrenda composição de uma dupla chamada Alan and Denise.

Caro Rummenigge, pior do que isto só mais uma vitória do FC Porto. Agora em Munique.    



PS: «Cause I’m a Man» - dos Tame Impala.
O terceiro álbum do projeto liderado por Kevin Parker é revelado em maio, mas deixo já aqui um aperitivo riquíssimo. O single chama-se Cause I’m a Man e é fiel depositário do rock psicadélico e experimentalista revelado nos dois trabalhos anteriores, Innerspeaker e Lonerism.

Parker, o cérebro de todo o projeto, prefere ter o comando de todo o processo criativo, juntando-se só depois aos restantes quatro elementos da banda. Foi assim nos álbuns anteriores, será assim em Currents. Se o resultado tiver a mesma qualidade, fantástico.   




VIRAR A PÁGINA:

«LA INMENSA MINORIA» - de Miguel Angel Ortiz.

Um grupo de adolescentes de um bairro suburbano de Barcelona usa o futebol como meio de escape a uma vida dura. Estamos em 2010, vésperas do Mundial da África do Sul, e o horizonte deste grupo de amigos não é mais do que um constante defraudar de expetativas.

Pista, Retaco, Peludo e Chusmari fumam charros, engatam amigas, bebem bastante cerveja e jogam futebol, muito futebol. Os pais não são propriamente o apoio perfeito. Mas a seleção de Espanha está prestes a entrar em campo.

Uma obra notável de um jovem escritor de 33 anos.
 

«PLAY» é um espaço de opinião/sugestão do jornalista Pedro Jorge da Cunha. Pode indicar-lhe outros filmes, músicas e/ou livros através do e-mail pcunha@mediacapital.pt. Siga-o no Twitter.