PLAY é um espaço semanal de partilha, sugestão e crítica. O futebol espelhado no cinema, na música, na literatura. Outros mundos, o mesmo ponto de partida. Ideias soltas, filmes e livros que foram perdendo a vez na fila de espera. PLAY.

SLOW MOTION:

«I AM BOLT» - de Benjamin Turner e Gabe Turner
Último dia dos Jogos Olímpicos. Dezenas de milhares rumam à cerimónia de encerramento no Maracanã, avenidas e ruas engarrafadas, temporal e árvores caídas, confusão tipicamente carioca.

O jornalista foge em direção ao aeroporto. Para trás ficam 24 dias na Cidade Maravilhosa e o vício diário em adrenalina. No táxi respira fundo, chega a fechar aos olhos e, chegado à porta de embarque, estranha a tranquilidade. Não há vivalma.

É a melhor altura para viajar. Quem não está no Maracanã, está em frente à televisão. Perfeito. Um abraço ao amigo João Cláudio e cá vamos nós, aeroporto silencioso, lojas vazias, restaurantes sem clientes, umas horas para relaxar.

De estômago composto, o repórter aproveita para comprar umas lembranças para a família. Tudo certo, tudo calmo e eis que… «PORRA!!! É O BOLT!!!»

O empregado da loja de souvenirs vê o jamaicano a passar à porta e sai a correr. Junta-se a centenas de fãs – onde é que eles andavam??? – e rodeiam o jamaicano, sufocam-no. Usain sorri, assina folhas em branco, tira fotografias, fala com aquele olhar caribenho, meio malandro, totalmente genuíno.

Usain Bolt é isto. Provavelmente a maior estrela desportiva da última década, futebolistas à parte, e provavelmente a mais simpática e acessível de todas elas. Querem outro exemplo disso?

Em novembro de 2015, o Maisfutebol solicita ao agente de Usain Bolt uma entrevista. O contacto é feito por email, a esperança é nula. Tantos pedidos morrem na indiferença de diretores de comunicação, na má formação de empresários, na vaidade autista de atletas menores…

Dois dias depois do pedido, a resposta chega. E é positiva. «O Usain tem muito gosto em falar para Portugal. Podemos agendar uma conversa por telefone? O número é este…». Acabou assim.

A sua história de vida chega ao cinema e às salas portuguesas no final do mês. O realizador já nos presenteou com o fantástico «Class of 92». Irrecusável, pois.


PS: «Cafe Society» – de Woody Allen
O fausto bronzeado da LA dos anos 30, a indústria cinematográfica, Ginger Rogers, Judy Garland, Clark Gable… Woody Allen escreve, dirige e entrega a representação a Jesse Eisenberg, o seu novo delfim.

Allen, aliás, molda Eisenberg à sua maneira, tenta olhar-se ao espelho e gostar do que vê. Os tiques, a hiperatividade, o humor neurótico, as perturbações obsessivo-compulsivas, tudo na personagem de Bobby é composto a pensar em Allen. E, surpreendentemente, resulta.

Não é um novo Annie Hall, não se aproxima de Manhattan ou de Vigaristas de Bairro, mas a assinatura de Woddy Allen é evidente. E isso é o melhor elogio a este Cafe Society.



SOUNDCHECK:

«BAMBINO» - de Elza Soares

Aos 79 anos, a Mulher do Fim do Mundo passou pelo Mexefest e cantou com a paixão de sempre. A mais mediática das companheiras de Mané Garrincha, e também a mais turbulenta, continua a ser uma artista primordial no Brasil, uma referência incontornável.

Numa obra riquíssima, recordo este Bambino, a canção que encerra o grandioso filme Garrincha – Estrela Solitária, de Milton Alencar.



PS: «Head Carrier» - dos Pixies
O tempo é inclemente e discorda facilmente da memória. Ouvir um novo álbum destes senhores é um exercício, antes de mais, paradoxal: há o entusiasmo instintivo – ‘ei, estou a ouvir músicas novas dos Pixies em 2016’ – e a desconsolada comparação – ‘eh pá, não é bem um novo Doolittle’.

Head Carrier é um bom álbum, mas não é um disco extraordinário, muito menos marcante. É dos Pixies, uma das minhas bandas de sempre, mas não é a superação criativa que eu ainda aguardo. É o que dá ser culturalmente otimista.



VIRAR A PÁGINA:

«LIDERANÇA» - de Alex Ferguson e Michael Moritz
O que fazer depois do último dia de trabalho no Manchester United? Como passar o verão no sul de França, como sempre, e não receber futebolistas, dirigentes e empresários? Como olhar para trás e não comparar décadas de vitórias com o triste reinado dos sucessores Moyes e Van Gaal?

Esta é mais uma incursão de Ferguson, bem acompanhado por Moritz, pelo longínquo e intrincado labirinto das recordações. Há muitas e boas histórias, ainda mais revelações. Acabei o livro esta semana. Venha o próximo Sir Alex.

«PLAY» é um espaço de opinião/sugestão do jornalista Pedro Jorge da Cunha. Pode indicar-lhe outros filmes, músicas e/ou livros através do e-mail pcunha@mediacapital.pt. Siga-o no Twitter.