PLAY é um espaço semanal de partilha, sugestão e crítica. O futebol espelhado no cinema, na música, na literatura. Outros mundos, o mesmo ponto de partida. Ideias soltas, filmes e livros que foram perdendo a vez na fila de espera. PLAY.

SLOW MOTION:
«Borg McEnroe» - de Janus M. Pedersen

Uma das maiores rivalidades no desporto de alta competição, Bjorn Borg vs. John McEnroe. O sueco que afinal não era um bloco gelo, o norte-americano que gesticulava uma fúria voluptuosa, um ténis que se jogava ao ritmo de duas mentes tão loucas quanto geniais.

Pedersen filma com elegância a imagem saturada dos 70s/80s, transporta rigorosamente o espetador para os courts de ténis, dá um toque de excelência a uma modalidade nem sempre fielmente retratada na Sétima Arte.

Sverrir Gudnason assume o comando das operações, é um Borg assustadoramente perfeito. Maníaco, obcecado pela perfeição e pelo auto controlo, um vulcão retraído por uma personalidade mais preocupada em agradar do que em ser livre.

Shia LaBeouf é competente no desenho de McEnroe, convincente nas zaragatas, contundente nas constantes tempestades em copos de água indolores.

E tudo se compõe para o palco dos palcos, o sonho dos sonhos, o duelo dos duelos: a final de Wimbledon em 1980. Sabem quem ganhou? Basta consultar na internet, mas se não souber, então sugiro que aguente até ao The End do filme.



PS: «Darkest Hour» – de Joe Wright

Gary Oldman tem de ganhar o Oscar para Melhor Ator com esta composição de Winston Churchill. Impressionante, absolutamente impressionante, o retrato construído por Oldman e o realizador Joe Wright do antigo primeiro ministro britânico, nome primordial para o desfecho da II Guerra Mundial.

Todo o filme se apoia na representação superior de Oldman. Aquela figura aparentemente distraída e atrapalhada, mas na verdade possuidora de uma mente brilhante; sempre de charuto e copo de whisky, emocional e intempestivo, Churchill resiste à ameaça nazi e à pressão do próprio partido para negociar tréguas com Adolf Hitler.

«Nunca negoceies com um tigre quando a tua cabeça está na boca dele.»



SOUNDCHECK:
«Sozinho» - de Ronaldinho Gaúcho

Janeiro acabou com o sorriso de Ronaldinho a anunciar a reforma definitiva dos relvados. Um adeus esperado, mas ainda assim doloroso. Um dos maiores futebolistas de todos os tempos entrou-nos pela casa adentro anos a fio neste século XXI demasiado sério para quem ama o futebol malandro, genuíno, de rua.

Em 2017, já longe de pensar como um futebolista profissional – será que alguma vez o fez? -, Ronaldinho aventurou-se no mundo da música e escreveu «Sozinho». Obrigado, Ronaldinho, continuaremos a sorrir contigo.

«Sozinho Eu, agora sozinho

Não me sinto mais fraco

Ou mais forte

mas quem sabe a sorte

Me conforte nessa batalha

Eu, já fui de andar com três

E de fazer a dois

Sem ter medo de errar e de arriscar

Mas sozinho é difícil

E quem pensou que eu iria tropeçar, acertou

Mas tô de pé, e de cabeça erguida

Pois eu sei que a vida

Tem muito pra me dar

E eu não vou parar até me encontrar

e dar a volta por cima

Sozinho, por primeira vez Sozinho,

a mente vai além do além

Sozinho, mas com força e fé pra continuar»



PS: «Epoch» - dos Tycho

Fechem os olhos, inspirem profundamente e sigam as notas de Scott Hansen, um génio de Sacramento, Califórnia. Hansen criou os Tycho, post rock abençoado, cuidado, elegante.

Para ouvir ao volante, no escuro de uma sala, sem pressa, a enlear um mundo zen, um mundo mais sereno. Um dos bons projetos do género, ainda sem dimensão mediática em Portugal.



VIRAR A PÁGINA:
«Federer» - de Chris Bowers

É melhor tenista de todos os tempos e um dos meus poucos ídolos. D10S Maradona, Michael Jordan, Ayrton Senna, Roger Federer, o meu quarteto fantástico.

Tive o enorme privilégio de entrevistar Roger Federer em 2005, no Casino do Estoril, por altura dos Laureus. Roger tinha 24 anos, eu pouco mais. Lembro-me da simplicidade e da simpatia, confirmando a imagem de cavalheiro dos courts.

Passaram 13 anos e cá continuamos, eu e ele, nas nossas barricadas. Ele acabou de ganhar o 20º Grand Slam de uma carreira impressionante, eu continuo a escrever sobre ele com o entusiasmo de 2005.

Esta biografia revela a intimidade do Roger que conheci no Estoril.

«PLAY» é um espaço de opinião/sugestão do jornalista Pedro Jorge da Cunha. Pode indicar-lhe outros filmes, músicas e/ou livros através do e-mail pcunha@mediacapital.pt. Siga-o no Twitter.