PLAY é um espaço semanal de partilha, sugestão e crítica. O futebol espelhado no cinema, na música, na literatura. Outros mundos, o mesmo ponto de partida. Ideias soltas, filmes e livros que foram perdendo a vez na fila de espera. PLAY.

VIRAR A PÁGINA

«POR FALAR EM CROMOS» - de Hugo Silva
«Cadernetas e cromos de futebol dos campeonatos nacionais da primeira divisão de 1934 a 2016». 82 anos de história reunidos numa coleção de amor, obra imperdível para colecionadores ou meros apaixonados pelo ritual de rasgar a carteirinha e colar a imagem de um futebolista no sítio certo.

O trabalho de Hugo Silva é isso mesmo, uma recolha exaustiva e apaixonada, um compêndio de cadernetas de cromos, resumidas e anexadas neste extraordinário livro, muito mais do que futebol.

Há imagens marcantes. A primeira caderneta, por exemplo, disponibilizada em 1934 e cujo patrocinador foi a Sociedade Industrial de Confeitarias, Lda. Lá estão os clubes dessa primeira coleção – oito no total, um deles o União Football Lisboa – e um texto escrito pelo autor, com detalhes deliciosos.

«O cromo nº93 era o carimbado. Quem o obtivesse, e uma vez que completasse a caderneta, tinha direito a receber uma bola de futebol».

Cada caderneta tem direito a uma descrição rigorosa e a algumas imagens escolhidas pelo autor. É possível recordar Jorge Jesus dos tempos em que jogou na União de Leiria, Eusébio com o equipamento do Beira-Mar, a estrondosa cabeleira de Dé (Sporting) em 1973/74, o enorme Cubillas no FC Porto (1974/75), o selecionador Fernando Santos no Estoril (1978/79) e até Rosa Mota em 1977/78, numa caderneta que inclui outros desportos.

Esta é uma irrecusável viagem ao passado, ano a ano, caderneta a caderneta, uma reunião de memória e partilha. Quem folheia o trabalho percebe o quão rico é o baú exposto nesta obra.

Sou, aliás, obrigado a sentir que nunca estive só naquele momento em que entrava numa tabacaria e pedia cinco carteirinhas de cromos. Por esse país fora, milhares fizeram o mesmo.

É importante referir que esta é uma edição de autor e que só pode ser comprada diretamente a Hugo Silva, através do email livrocromos@gmail.com .



SLOW MOTION:

«ERNESTO NO PAÍS DE FUTEBOL» - de André Queiroz e Thaís Bologna
Um menino argentino, apaixonado por futebol e obrigado a viver no Brasil. Tudo isto em ano de Campeonato do Mundo. 2014, no Brasil.

A curta metragem fez parte da primeira edição do festival de cinema Cine Futebol Clube – o primeiro do género em Portugal – e é um tratado de bom humor e imaginação, tudo em nome da sã convivência entre vizinhos rivais.

Afinal, o que pode ser pior do que um argentino no Brasil em ano de Copa do Mundo?


PS: Os Sete Magníficos – de Antoine Fuqua
Se Yul Brynner, Steve McQueen, Charles Bronson, os protagonistas do original de 1960, vissem este remake de Antoine Fuqua – realizador do excelente Dia de Treino -, sairiam do cinema sorridentes e entretidos, mas com uma certa sensação de nostalgia vazia.

Fuqua cumpre o desígnio da equação ação+humor+diversão, sem atingir uma nota verdadeiramente meritória. A cidadezinha de Rose Creek é o palco da disputa entre o hediondo Bartholomew Bogue e os sete homens contratados com a missão de restaurar a paz e a justiça.

Denzel Washington e Ethan Hawke lideram um bom elenco, sem atingirem o nível de brilhantismo dos nobres antecessores. É sempre bom retornar ao Old West, ver perseguições a cavalo em pradarias desoladoras e revólveres prontos a disparar.Falta só um toque de génio.



SOUNDCHECK:

«O RAPAZ DO BRINCO» - de Vitorino

Em 2005, Vitorino inspirou-se no futebol e lançou um álbum (Ninguém nos ganha aos matraquilhos) cheio de alusões ao desporto rei. Nesta música dedicada ao saudoso Vitor Batista, a letra é de José Jorge Letria.

«Eras o rapaz do brinco
Eras o herói da tarde

Driblador cheio de afinco,
Médio seguro ou trinco

Da alegria dessa idade
Eras a festa do jogo,
Com o resultado incerto,
Entre a água e o fogo,

Adeus Vítor até logo
Que a vitória andou perto.
Eras o brinco perdido
Na parcela do relvado

Onde em sonhos tinhas lido
As promessas sem sentido
De um contrato renovado».



PS: «Stay Alive» - de José González
O argentino-sueco divide-se entre uma carreira a solo e o projeto Junip, capaz de desenhar melodias doces, valsas dedilhadas em nuvens acústicas e palavras sussurrantes. A voz não engana, o tom é sombrio, a guitarra segue as sílabas e encosta-se em esquinas mornas.

Escolho uma música surpreendente, lindíssima, integrante da banda sonora de um filme de 2013, dirigido e interpretado por Ben Stiller, The Secret Life of Walter Mitty.

«PLAY» é um espaço de opinião/sugestão do jornalista Pedro Jorge da Cunha. Pode indicar-lhe outros filmes, músicas e/ou livros através do e-mail pcunha@mediacapital.pt. Siga-o no Twitter.