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O campeonato nacional português é um velho amigo. Daqueles que sou incapaz de largar, mesmo quando tem uma ou outra atitude reprovável comigo. Estrago-o com mimos.

Não o troco por ninguém. Venha um espanhol abastado, um inglês com o rei na barriga, um italiano devorador de ídolos e massas, um alemão de carregado sotaque bávaro, venha quem vier.

Nasci a colar os cromos nas cadernetas alusivas a este meu amigo e ao domingo à noite lá estávamos, olhos nos olhos, no Domingo Desportivo. São demasiadas memórias, confidências, experiências e sei lá mais o quê, para chegar agora e lembrar-me que não lhe suporto os defeitos.

Gosto dele, sigo-o para todo o lado, mas também embirro a sério em relação a algumas características de personalidade. Não lhe suporto, por exemplo, a mania parva de permitir que os três grandes do nosso país joguem quase sempre ‘em casa’.

Explico-me. Quantas vezes vemos FC Porto, Benfica e Sporting – a ordem é irrelevante – a jogar em ambientes adversos, a não ser nos confrontos diretos na condição de visitante?

Quando vão a Guimarães, certamente que sim. E mais? Braga, ok. Estádio do Bessa? Noutros tempos. Talvez em Famalicão, mas não mais do que isso.

E é por isso que é tão bom ter um clube como o Futebol Clube de Vizela no escalão maior.

O Benfica visitou Vizela e jogou, de facto, como visitante. Três quartos do estádio estavam tomados pela paixão da equipa da casa, 75 por cento da lotação. O meu querido campeonato nacional precisa de exemplos destes, de clubes que pegam nas histórias da sua terra e atiram-nas para dentro do relvado.

Defendo isto desde sempre: faz-me uma confusão enorme alguém ser adepto de um clube que está a centenas de quilómetros. É legítimo amar qualquer emblema, naturalmente, mas para mim tudo faz mais sentido com a injeção do bairrismo, da defesa do sítio onde nascemos e/ou vivemos. 

No domingo passado não foi só o Futebol Clube de Vizela a jogar. Foi o senhor Carlos do talho, a dona Maria da mercearia, a clientela toda do Café Central e a banca de peixe do senhor António. Todos correram, todos lutaram, todos vibraram e todos mereciam outro desfecho. 

Que bonito foi ver um clube de dimensão inferior a fazer ouvir a sua voz.

PS: o dinheiro pode comprar clubes e fazer deles empresas cotadas em bolsa, mas o Vizela provou que nada é capaz de suplantar o amor pelo emblema da nossa cidade. Falo do Vizela como poderia falar do Leixões, do Sp. Espinho, do Farense, da Académica, instituições intimamente ligadas aos seus adeptos. E ao meu querido campeonato nacional.

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