Sempre que existe uma convocatória para a Seleção Nacional há regularmente um conjunto de vozes contra, seja por discordância com os convocados ou com aqueles que ficam de fora. Umas vezes por clubismo, outras porque jornalistas e adeptos consideram simplesmente que existiam opções mais válidas que as tomadas.

A verdade é que a formação de uma equipa no seio da Seleção tem claramente requisitos muito distintos quando comparados com os dos clubes.

Se deitarmos um olhar à vasta literatura existente sobre formações de equipas, uma seleção nacional coloca quase tudo em causa. Não há muito tempo, e não existe aquilo que os treinadores denominavam de «automatismos». Os jogadores chegam com muitos hábitos distintos uns dos outros e cada um tem o seu próprio ritmo para desligar um chip e ligar o outro.

Isto leva-nos de imediato para a questão de os treinadores procurarem por vezes aproveitar, consoante a sua personalidade e liderança, o que alguns clubes já fazem de bom. Tentam acelerar a capacidade de criar mecanismos, alinhamentos, coordenações e mapas mentais e técnicos, que consigam, em poucos dias ou horas, ir ao encontro dos objetivos e das estratégias idealizadas. Como? Ao utilizarem setores e o trabalho de coordenação já existente entre os atletas dos mesmos clubes, que sejam possíveis de compatibilizar com as regras coletivas das seleções.

Em média, o campeão europeu tem, desde 2000, menos 1,5 clubes representados nos 23 jogadores eleitos do que as rivais que chegam às meias-finais e menos quatro do que as presentes nos quartos de final.

No onze-tipo utilizado, o campeão europeu usa, em média, jogadores de sete clubes e as seleções que atingem os quartos de final de 8,4.

Já no Campeonato do Mundo, o vencedor utiliza menos dois clubes nas convocatórias que, por exemplo, o vice-campeão e menos 1,6 clubes no onze-tipo quando novamente comparado com o finalista vencido.

Nos setores defensivos e de meio-campo, as seleções mais bem classificadas utilizam mais vezes dois ou três jogadores do mesmo clube que as pior classificadas.

Nos Mundiais, as diferenças são ainda maiores, exceto - e aqui também é interessante avaliar este ponto - quando falamos de equipas nacionais fora do continente europeu. Isto pode ser explicado pela incapacidade financeira de reter os melhores atletas no país de origem, ou de canalizar os melhores sempre para os mesmos clubes.

Se há quem possa considerar que tudo isto é óbvio, a verdade é que não é bem assim.

Nas dez competições que analisei, existiram sete campeões diferentes. Logo, a ideia de que todas as seleções que ganham o fazem com os setores pré-definidos de Real Madrid, Barcelona, Juventus, Bayern Munique não é verdadeira. Depois, liderar um grupo dentro de uma equipa não é sempre uma vantagem. Depende muito da personalidade dos jogadores e do treinador.

Percebe-se então que, por vezes, alguns selecionadores nacionais sejam mais conservadores ao não chamar apenas os jogadores que na altura estão em melhor forma, mas também aqueles que têm já adquirida a cultura organizacional da seleção nacional e as sinergias que criam com os restantes convocados.

Este estudo não analisa algo também importante, que seria estudar não apenas a época em que o Campeonato Europeu ou Mundial se realiza, mas sim o historial dos jogadores das seleções vencedoras.

Na Seleção Nacional campeã europeia em 2016, a defesa foi constituída, em alguns jogos, por dois jogadores do Southampton, mas também por dois jogadores que tinham jogado simultaneamente no Sporting. Para lá das sinergias do meio-campo.