A Seleção Nacional falhou e este é o momento para reflexão urgente sobre o que podíamos ter feito melhor e o que é preciso mudar. Já sabemos que Paulo Bento vai continuar, tem contrato até ao Euro 2016, mas olhando para os 23 escolhidos para o Brasil é inevitável concluir que muitos terão de deixar de ser chamados para que isso permita o início da renovação.

Uma das críticas ao selecionador neste campeonato foi o conservadorismo das  escolhas, o facto de praticamente não ter mexido no onze entre fases finais (comparando com o Euro 2012) e só o fazer quando forçado, por lesão ou castigo. Sem sequer ser necessário falar de ausências por opção como Quaresma, Antunes ou Danny, chega-se ao jogo com o Gana com a sensação de que a equipa apresentada esteve muito perto do ideal e não por vontade do treinador. William Carvalho e Ruben Amorim jogaram mediante a força das evidências e Varela sempre que entrou mexeu no jogo.

Este é um aspecto extremamente relevante, dado ser um traço de orientação técnica (e também de personalidade) de Paulo Bento. Ele é conservador nos processos, nas abordagens, nas escolhas e é este o principal responsável na condução dos destinos da Seleção Nacional até ao Europeu de França. O que nos leva a confiar de que esse processo de mudança/renovação vai mesmo acontecer?

Portugal apareceu no Mundial com uma das médias de idades mais elevadas entre as seleções presentes: 28,2, ficando pouco atrás da mais velha, a Argentina (28,6), e muito acima do nível médio (27,3). Equipas como a Alemanha (26,3), Holanda (26,5), Inglaterra (26,6) ou França (26,9) não só apresentam um figurino bem mais jovem, como mostraram maior vigor físico e partem em vantagem para o Euro 2016, quando muitos dos atuais atletas estarão no top das suas capacidades.

Se Paulo Bento mantivesse precisamente este grupo nos próximos dois anos, atingiríamos uma média superior a 30 anos de idade, sendo que 13 dos jogadores teriam 30 anos ou mais, sete teriam entre 26 e 29 anos e apenas três surgiriam com 25 ou menos anos. O fim da linha é urgente e se não for o selecionador a mostrar o caminho, que sejam os jogadores a fazê-lo, como aconteceu com Simão, Tiago, Deco e Paulo Ferreira depois do Mundial 2010.

Considerando os jogadores com experiência de Seleção anterior a Paulo Bento e que ganharam estatuto de titular com ele só João Pereira e João Moutinho foram reais conquistas, embora as limitações físicas tenham levado à utilização de André Almeida, William Carvalho e Éder (Vieirinha acabou por jogar escassos minutos). Pouco, muito pouco, em quatro anos.

Aposta imediata e de futuro

Cristiano Ronaldo terá 31 anos no Euro 2016 e continuará a fazer parte do núcleo duro desta Seleção, assim como Fábio Coentrão (28), João Moutinho (29), Nani (29) e Varela (29), aos quais se deverão juntar Rui Patrício (28), Neto (28) e William Carvalho (24), o que torna demasiado evidente que faltam soluções na faixa entre os 25 e os 27 anos, precisamente a idade em que os jogadores costumam atingir o pico da carreira.

O tal fim da linha tem nomes bem definidos: Eduardo (33), Beto (34), Bruno Alves (34), Pepe (33), Ricardo Costa (35), Raul Meireles (33), Hélder Postiga (33) e Hugo Almeida (32), mas provavelmente também para Miguel Veloso (30), Vieirinha (30) e Ruben Amorim (31). É muita gente.

Daí a necessidade de olhar para outras soluções e desde logo para a atual seleção sub-21, orientada por Rui Jorge, onde é possível encontrar soluções para os buracos que se vão abrir em vários lugares: lateral-direito, defesa-central, posição 7 e… ponta-de-lança. Alguns nomes que devem entrar para esta equação, não necessariamente para as posições em falta: Tiago Illori, Paulo Oliveira, Ruben Vezo, Luís Martins, Bernardo Silva, André Gomes, Tozé, João Mário, Bruma, Ivan Cavaleiro, Betinho, Gonçalo Paciência e Ricardo Pereira. Tudo jogadores que terão entre 21 e 24 anos no Euro 2016, com capacidade mais do que suficiente para entrar num lote de convocados de Paulo Bento.

Estes são os factos. As soluções existem (e espera-se que outras possam surgir), mas é preciso utilizá-las e não voltarmos a refugiar-nos em  jogadores que já deram muito à Seleção, mas que já não têm o vigor, a capacidade de sofrimento ou até a ambição para continuarem a representar o país de forma digna. Para eles é o fim da linha, para outros é o início de um futuro brilhante.

«Um domingo qualquer» é uma crónica de opinião quinzenal do jornalista Filipe Caetano

PS - Para mais sobre o assunto sugiro a análise de Vítor Hugo Alvarenga