Há três tipos de racistas na sociedade atual: o racista por convicção, o racista por pura ignorância e o racista em desconstrução. Assumir isto não é um problema, é uma virtude.

Um racista em desconstrução aceita olhar para o próprio passado e sentir vergonha do aproveitamento de "piadinhas" preconceituosas e da falta de atitude diante tamanha injustiça.

Um racista em desconstrução demonstra imensa revolta ao perceber que praticamente todas as empregadas da limpeza na empresa onde trabalha são mulheres africanas.

Um racista em desconstrução discute frequentemente a falta de representatividade preta nos mais diversos programas da televisão portuguesa.

Um racista em desconstrução destaca que os pouquíssimos comentaristas esportivos pretos na televisão portuguesa são essencialmente ex-jogadores e treinadores.

Um racista em desconstrução alerta sempre que possível que o futebol português pune com maior rigor a pirotecnia nos estádios do que os atos de racismo e xenofobia contra atletas e torcedores.

Um racista em desconstrução não consegue achar explicação alternativa plausível para Vinicius Júnior nem sequer ter sido colocado por alguns entre os três melhores do mundo da última temporada.

Um racista em desconstrução não acredita que Vinicius Júnior perdeu a Bola de Ouro simplesmente por causa da cor, mas, acima de tudo, por ter quebrado o paradigma de preto subserviente que aceita tudo calado.

Enfim, um racista em desconstrução admite, sim, ser chamado de racista, independentemente do país de origem, da preferência política, da classe social ou até mesmo do clube do coração.

Nós, brancos, privilegiados, brasileiros ou portugueses, somos racistas. A nossa herança é pesada.

*Bruno Andrade escreve a sua opinião em português do Brasil