«Vamos com calma, viver um dia de cada vez, e só assim poderei chegar longe. Se pensar muito alto, a queda vai ser grande.»

Rúben Neves, o corpo adulto e o rosto de um adolescente. É fácil esquecer que tem apenas 17 anos mas torna-se óbvio quando enfrenta os jornalistas em Paços de Ferreira, após a vitória de seleção sub-21 frente à Holanda.

O jovem médio procurou o discurso fechado, imune a euforias. Sóbrio, humilde e correto. Fica bem e demonstra o caráter formado demasiado cedo, como resposta a desafios inesperados. Rúben combate o deslumbramento, principal fator de instabilidade emocional.

«Viver um dia de cada vez» é lema para quem teme o fim abrupto e se agarra ao momento. De facto, Rúben Neves subiu tão alto, tão rápido que as probabilidades apontariam para uma descida abrupta. Porém, ele resiste.

Resistir é palavra de ordem, a exigência perante o inevitável sobressalto no alucinante percurso. Após o clássico de Alvalade, onde uma perda de bola permitiu o golo do Sporting, agarrou-se ao lema: «Só os fracos desistem, só os fortes resistem». «Pensar no próximo e aprender com os erros. Desculpem.»

Passaram escassos meses desde o início da temporada e esquecemos que Rúben Neves nasceu em 1997. Felizmente, um desafio do Guardian permite-nos recordar esse pormenor desarmante, incluindo a promessa do FC Porto entre talentos mundiais da mesma geração. 

Há três anos, ele estava assim:



Na terça-feira, Rúben partilhou o setor intermediário com Sérgio Oliveira, que teve estreia idêntica no emblema portista. Serve como ponto de comparação: este último tem atualmente 22 anos, mais cinco que o adolescente.

Rúben Neves merece ser encarado dessa forma: como um adolescente, embora apresente um futebol de gente grande. Vive um dia de cada vez e, no entanto, deu um salto gigantesco para o patamar de máxima exigência.

É fácil esquecer que viajou da seleção sub-17 para os sub-21, sem paragens em apeadeiros. Que, há apenas quatro meses, estava nos juvenis do FC Porto. Não jogou pelos juniores nem pela equipa B, somando apenas duas presenças no banco de suplentes.

Sobretudo, é fácil esquecer que lhe faltam dez minutos. Ironicamente, seriam os dez minutos que lhe permitiram sorrir, gozar os prazeres da sua idade, a vagarosa existência de um jovem.

Os jogos de Rúben Neves como juvenil, até junho de 2014, tinham apenas 80 minutos. Lembre-se disto quando sentir que o médio está a perder fulgor na reta final dos encontros. É natural.

Rúben brilhou no Europeu de sub-17 em maio mas regressou para a intermédia responsabilidade dos juvenis do FC Porto. Fez a sua despedida no clássico frente ao Benfica, no Seixal (1-2), convertendo uma grande penalidade. Não imaginaria o que se seguiria.

Julen Lopetegui fê-lo saltar etapas de crescimento mas reduziu entretanto o grau de exposição, em sintonia com o clube. A qualidade está lá, a mentalidade disfarça a tenra idade e parecem-lhe faltar apenas os dez minutos, a capacidade de resistência para manter o rendimento máximo até final.

O futuro é brilhante mas Rúben Neves vive um dia de cada vez, temendo a quebra abrupta. O receio de uma inevitável probabilidade é, seguramente, uma das principais chaves para o sucesso.



Entre Linhas é um espaço de opinião com origem em declarações de treinadores, jogadores e restantes agentes desportivos. Autoria de Vítor Hugo Alvarenga, jornalista do Maisfutebol (valvarenga@mediacapital.pt)