Assim que a contratação de Luis Díaz pelo FC Porto foi consumada, houve quem com responsabilidades pelo reforço da equipa perguntasse qualquer coisa como: «Ele é mesmo bom?»

Após falhar Bruma, por 15 milhões de euros, o FC Porto despertou um súbito interesse no colombiano e entrou num contrarrelógio para contratar ao Atlético Junior aquele que viria a tornar-se no melhor jogador da Liga Portuguesa.

Díaz estava quase a rumar ao Zenit de São Petersburgo, mas a corrida não era só com os russos.

Dois agentes vindos de Portugal tentaram, cada um por si, chegar primeiro à Colômbia para fechar o negócio. Quem perdeu a corrida dedicou-se nos dias seguintes ao contrato ser firmado a passar a mensagem, replicada por cá em diferentes canais, de que o jogador não iria para o Dragão.

Serve esta recordação com dois anos e meio para salientar que mesmo um grande investimento – então de mais de 7 milhões de euros por 80 por cento do passe – pode ser decidido quase por intuição.

Detalhada a primeira parte, vamos então à segunda.

No passado domingo, consumou-se a venda de Díaz ao Liverpool por 45 milhões de euros, mais 15 milhões por objetivos.

Bom negócio?

Na verdade, mais do que os valores, o maior problema é o timing. Isso e a demonstração inequívoca de que, aflito de finanças, qualquer clube, empresa ou cidadão deixa de ser dono do seu próprio destino.

Durante 40 anos de gestão de Pinto da Costa, sempre houve uma regra sagrada: era impensável sequer cogitar a venda de um titular a meio da época. Jamais o encaixe financeiro justificaria a possibilidade eventual de hipotecar o êxito desportivo. A cada tentativa, apontava-se o valor da cláusula e quem estava do outro lado sabia que esbarraria numa posição irredutível.

Foi sobretudo esse paradigma que mudou por estes dias.

Pressionado por dívidas a credores e por um ultimato da UEFA, o FC Porto arriscava-se a perder os tais 45 milhões (que não entrarão por inteiro nos cofres da SAD) e outro tanto, caso lhe fosse vedada a entrada na Liga dos Campeões. Uma exclusão que seria extensível a outras épocas e que provocaria irreparáveis danos financeiros e reputacionais.

Serão estes indisfarçáveis sinais de alarme que fizeram Sérgio Conceição expor publicamente a falta de planeamento da outrora famigerada estrutura portista, nas primeiras declarações públicas após se ver sem o maior craque da equipa.

Não é sempre assim, mas no caso de Díaz o FC Porto comprou por impulso e vendeu em desespero.

Aprendeu com isso?

A verdade é que, logo no dia seguinte, a estrutura voltou a ceder à pulsão do último dia de mercado e encheu de milhões os cofres do Sp. Braga. Tal como aconteceu há três anos com o médio Loum, comprado por 7,5 milhões por 75 por cento do passe. Desta vez, a aquisição foi Galeno, o substituto de Díaz, com os portistas a despenderem 9 milhões de euros por um jogador que há três épocas fazia parte dos seus quadros.

Se esta movimentação acabará ou não por fazer sentido só saberemos mais à frente.

Enquanto essa resposta não chega, há uma questão, entre tantas outras, que fica no ar: agora que o sufoco passou, até quando irá o Dragão aguentar até precisar de recorrer a mais um balão de oxigénio?

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«Geraldinos & Arquibaldos» é um espaço de crónica da autoria do jornalista Sérgio Pires. O título é inspirado pela expressão criada pelo jornalista e escritor brasileiro Nelson Rodrigues, que distinguia os adeptos do Maracanã entre o povo da geral e a burguesia da arquibancada.