Esta semana na nossa improvisada rubrica «Com Papas e Bolos…» ensinamos-lhe a cozinhar «fake news», um mil-folhas que é a sobremesa ideal para afrontar notícias bem apuradas e acusações com sustento.

Ingredientes:

Uma denúncia anónima

Meia dúzia de testemunhos duvidosos

Blogues

Redes sociais

Tempo de antena

Papel de jornal

Fermento

Farinha

Gelatina

Canela e açúcar q.b.

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Modo de preparação:

Coloque uma denúncia anónima numa plataforma digital, passe-a por blogues e coe tudo nas redes sociais.

Junte o preparado num recipiente, adicione fermento, bata as suspeitas até ganharem consistência e deixe ferver em banho-maria.

Em seguida, deposite-o numa forma coberta com papel de jornal e polvilhe com farinha. Adicione uma ou duas medidas de descaramento e leve ao forno previamente aquecido com tempo de antena.

Noutro tabuleiro, unte bem uma personagem obscuro e de perfil duvidoso pincelando os seus testemunhos com generosas doses de credibilidade. Triture bem a honorabilidade e profissionalismo de um punhado de futebolistas. Se possível, junte uma porção de imagens manipuladas, mesmo que já estejam fora do prazo de validade.

Mexa tudo muito bem, até deixar a audiência confusa. Junte folhas de gelatina para que a miscelânea ganhe a firmeza possível.

Como a montagem das «fake news» é um processo delicado, tenha particular atenção a este passo: por cada camada de denúncia anónima sobreponha uma declaração da personagem sinistra. Repita o método até confecionar várias camadas.

No final, acrescente um pouco de boataria a gosto e adicione açúcar e canela q.b. para enfeitar. Leve o preparado ao frigorífico e deixe arrefecer até solidificar no subconsciente dos adeptos. Dê a provar a especialistas, para validar a receita.

Por fim, sirva o seu mil-folhas de «fake news» a todos, de modo a intoxicar a opinião pública a seu bel-prazer.

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«Geraldinos & Arquibaldos» é um espaço de crónica quinzenal da autoria do jornalista Sérgio Pires. O título é inspirado pela expressão criada pelo jornalista e escritor brasileiro Nelson Rodrigues, que distinguia os adeptos do Maracanã entre o povo da geral e a burguesia da arquibancada.