«CHUTEIRAS PRETAS» é um espaço de Opinião do jornalista Pedro Jorge da Cunha. Um olhar assumidamente ingénuo sobre o fenómeno do futebol. Às quintas-feiras, de quinze em quinze dias. Pode seguir o autor no Twitter. Calce as «CHUTEIRAS PRETAS».

A tarde era cinzenta, aquele cinzento que só se vê no granito do Porto. O vento soprava com a velocidade dos inconscientes e arrastava cadeiras e mesas na Foz. Não era um bom dia para passear na avenida que abraça rio e mar ao mesmo tempo.

Atrás de mim senti um passo vigoroso. Parei, olhei e vi Iker Casillas, dois dias depois de sair do hospital, a sentir a brisa fresca na cara e a ser o que tem sido ao longo de quatro anos: um portuense que ama o Porto.

Casillas acenava aos que lhe acenavam e sorria aos que lhe sorriam. Percebia-se que queria viver a aragem fresca, respirar o odor a Atlântico, apreciar a segunda oportunidade que o coração curado lhe deu.

Naquele passeio, San Iker era só mais um homem. Um portuense como nós.

Falar do extraordinário guarda-redes do FC Porto, do homem com um currículo com a dimensão dos Clérigos e um mediatismo que pede meças ao próprio Real Madrid é já um exercício repetitivo. Não vou por aí.

Hoje apetece-me voltar a falar do cidadão Iker Casillas, um portuense a quem só falta o sotaque certo para soltar um ‘carago’ ou um ‘morcão’. A minha admiração por ele nasceu precisamente na maneira típica como desde o primeiro dia absorveu a identidade única da Invicta.

É ele o homem que anda de bicicleta pela Cantareira, o homem que passeia com a família no Parque da Cidade, que vai comer o peixe mais fresco a Matosinhos e que não se importa de beber um fininho de quando em vez com vista para o Oceano.

Iker conquistou-nos com a mais simples das defesas. A defesa que agarra o Porto inteiro, uma mão na Arrábida e outra na Sé, uma mão na Baixa e outra na Avenida da Boavista.

Acabo como comecei. Iker Casillas recupera as forças e o coração no sítio que escolheu para ser feliz. A caminhar pela Foz, a aceitar a nortada que lhe bate na cara, a parar nos sítios certos para contemplar o que a Natureza a esta cidade ofereceu.

Que sejas muito feliz, Iker. 

«CHUTEIRAS PRETAS» é um espaço de Opinião do jornalista Pedro Jorge da Cunha. Um olhar assumidamente ingénuo sobre o fenómeno do futebol. Às quintas-feiras, de quinze em quinze dias. Pode seguir o autor no Twitter. Calce as «CHUTEIRAS PRETAS».