Ninguém pode garantir - quanto mais quem escreve esta crónica - que o Benfica tem garantida a continuidade na presente edição da Liga dos Campeões. Mesmo assim há questões que devem ser valorizadas: a vitória frente ao Zenit, por muito escassa que tenha sido, é sempre uma vitória; e não ter sofrido golos do opositor nas provas a eliminar costuma valer ouro. Assim sendo, meio percurso está feito, a possibilidade de seguir em frente na prova dos milhões é grande e nunca o Benfica esteve tão perto de chegar aos quartos-de-final, fase da prova que não atinge desde 2011/12. Na altura, foi eliminado pelo Chelsea de um modo que quem gosta de futebol jamais esquecerá.

Mais do que isso, o Benfica recuperou bem do desaire frente ao FC Porto na Liga – doloroso para Vieira, Vitória e restante grupo porque, não tendo afastado os dragões da luta pelo título, serviu para que estes encurtassem terreno e, ao mesmo tempo, permitiu a fuga dos leões. Confirmaram-se duas realidades: a equipa tem mostrado bela vocação na Champions, pois em sete jogos somou o quarto triunfo; desta vez, olhando para aquilo que se passou quatro dias antes, Rui Vitória fez a leitura correta dos acontecimentos e o resultado, ainda que conseguido em cima da hora, foi o que se viu.

Olhando para esse jogo, tão importante para as duas equipas, e feita a sua digestão, sem tirar mérito à estratégia de José Peseiro e ao atrevimento com que os portistas se apresentaram na Luz, nada me resta se não afirmar que Rui Vitória perdeu a cabeça e o controlo do jogo concretamente a partir do golo de Aboubakar. Confirmou-se, mais uma vez, que não é por ter mais gente no ataque, ou ao ataque, que se fica mais perto do triunfo. Bem pelo contrário, como se viu novamente.

Tenho a convicção de, que se fosse agora, o treinador do Benfica – até por que havia mais de 20 minutos para jogar – jamais retiraria do jogo Samaris e faria entrar Salvio, por exemplo. Sem o primeiro no relvado, o Benfica perdeu o seu equilíbrio no «miolo». Por muito bom que seja, e é, Renato Sanches se há coisa para a qual não parece (ainda) vocacionado é para controlar o jogo nos seus momentos defensivos; depois, fazendo-se a radiografia do que produziu, o que é que o regressado argentino, esse fantástico jogador, trouxe ao jogo? Nada, mas mesmo nada.

Por isso, embora as condições fossem diferentes, pois o Benfica estava empatado, mas a vitória era capital (também por abrir, mais uma vez, a porta do cofre), o técnico encarnado fez, como se diz na gíria, tudo direitinho. E mesmo que tivesse empatado, o caminho da fase seguinte continuava à mercê encarnada. Logo, com todo o respeito, desta feita Rui Vitória não se deixou envolver pela emoção e - como se viu - a razão favoreceu-o. Assim, até prova em contrário, tenho para mim que o compromisso benfiquista na Champions merece digno reparo. Até pelos orçamentos, como sistematicamente refere Jorge Jesus.

PS1 - Salvio saltou dos derradeiros minutos no jogo com o FC Porto para a bancada na noite do Zenit. Olhando as duas situações, qual a mais correta? Sem me querer imiscuir no dia-a-dia do futebolista, que garantiu na CI que estava a 100 por cento, acho que foi chamado cedo de mais à competição e que, no mínimo, Rui Vitória devia ter sido coerente e dado ao futebolista a possibilidade de ter ido ao banco. Se se tem passado isso… ninguém notava.

PS2 – Já o fiz pessoalmente, faço-o agora publicamente: desejo a Octávio Machado, com quem me cruzo no mundo do futebol vai para 40 anos, o mais rápido restabelecimento e que o seu futuro seja o mesmo que desejo para mim, cheio de saúde, boa disposição e… palavra pronta. O «palmelão» tem o seu feitio e dele pode quem não o admira dizer o que quiser, mas para mim há uma situação que respeito, aceito e entendo na perfeição: não manda dizer nada por ninguém. E foi por ter passado por uma ou duas situações dessas que nos respeitamos vai para quatro décadas. Volte depressa meu caro «mister»!