Mesmo nos melhores tempos, quando começou a defender com enorme segurança a sua ideia, nunca acreditei que Portugal pudesse chegar à final do Campeonato da Europa que termina este domingo. Achei sempre que era mais convicção do que outra coisa de Fernando Santos. Talvez fé, ele que é, e nada a dizer quanto a isso, católico praticante. E depois daqueles três primeiros jogos, mais duvidei que o selecionador nacional só regressasse de França no dia 11, como repetidamente defendia. Afinal, cumprido o calendário… o engenheiro estava cheio de razão.

Não estou aqui de baraço ao pescoço para pedir desculpa. Eventualmente fazer o meu mea culpa, porque os anos que levo de jornalismo, seja a dar notícias ou a fazer comentários, como no presente, me dizem que quando antecipamos as coisas e bate tudo certo nunca nenhum dos visados vem a terreiro dizer, em linguagem rebuscada ou popular (como é o caso de Fernando Santos), que «afinal aquele tipo estava certo no que afirmava».

Fernando Santos regressa a Portugal apenas nesta segunda-feira, e com ele a comitiva que liderou e que, como se provou, acreditou piamente nas suas palavras. Queria ver, caso o selecionado tivesse voltado mais cedo, se algum dos que agora falam do alto da sua sabedoria teria coragem para fazer algumas das críticas que tem feito. Certamente, seja qual for o resultado, todos serão recebidos em festa pelo fantástico povo que sempre os apoiou e pelo poder – convém recordar que alguns dos que mais acreditavam no êxito da campanha eram suas Excelências os Presidentes da República e da Assembleia da República, mais o Primeiro-Ministro -, mas convicto das minhas ideias não mudo uma vírgula ou uma palavra àquilo que escrevi e afirmei.

Nunca ninguém viu escrito por mim neste espaço, que ocupo todas as semanas, ou afirmado na antena da TVI que não queria ver Portugal campeão da Europa. Sou um cidadão como outro qualquer mas com esta profissão e na hora do jogo tenho sentimentos. Porém, eventualmente algo exigente, aceito, espero sempre um pouco mais. E, peço desculpa em voltar ao assunto, acho que Portugal só entrou nos carris que o levaram à final a partir do quarto jogo. Até lá… E graças ao golo fora de horas no jogo com a Áustria desse amigão que foi o islandês Traustason se calhar teríamos sermão e missão cantada para muito tempo. Assim…

Este Portugal de duas caras que chega à final do Euro só teve a da alegria e a do futebol razoável a partir da altura em que o selecionador mexeu na equipa, como muita gente exigia. E não apenas jornalistas e comentadores. Sim, foi a partir das mudanças no meio-campo, com as entradas de Adrien e Renato Sanches ou de Renato Sanches e Adrien, para não ferir suscetibilidades, que as coisas mudaram… para melhor. Como se viu frente ao País de Gales.

Não estando em causa, longe disso, os méritos do selecionador, homem honesto, estudioso, competente, conservador, mais defensivo do que ofensivo, que prefere ser feio e estar na rua do que bonito em casa, Portugal chega à final do Estádio de França porque perante as circunstâncias muitíssimo favoráveis que atapetaram o seu caminho não vacilou. E agora, frente à França é de esperar tudo. Sim, por que não a vitória? Com o moral que as tropas demonstram e com Ronaldo doido para chorar de alegria, pode muito bem acontecer aquilo a que este País sedento de feitos desportivos aspira.

Como sempre, nunca virei, nem virarei, as costas à Seleção. De Portugal, nem sempre posso dizer o mesmo, mas olho para a Seleção como um bálsamo, para o qual dezenas de jogadores deram forte contributo e António Oliveira, Humberto Coelho e Luiz Felipe Scolari foram determinantes. Quero que a estes nomes se junte o de Fernando Santos. Mesmo que não se conforme que ainda há um mês tivesse desconfiado da sua Fé. Que afinal, prova-se, também ajuda a derrubar montanhas.

PS1 – José Mourinho regressou aos grandes palcos em plena forma, admito que motivado pelo facto de vestir agora a camisola de um dos maiores clubes mundiais, como é o Manchester United. A sua conferência de Imprensa foi mais um hino à genialidade, não se furtando a falar de temas que são caros a quem gosta de futebol. E começando a bola nas malhas adversárias tenho a certeza de que o «furacão» está de volta, mesmo com Guardiola ali bem por perto.

PS2 – O também genial Messi não vive momentos de esplendor fora da zona onde realmente se destaca dos demais. Depois de, precipitadamente, ter dito que deixa o selecionado do seu país (espero pela não confirmação dessa vontade), foi apanhado, ele e o pai, pelo fisco. E mesmo que a pena de 21 meses de prisão seja suspensa, no seu cadastro fica para toda a vida uma nódoa difícil de apagar. Mesmo que ele, e acredito nisso, seja o menos culpado.