A frase que serve de título ao desfiar de ideias que se seguirão está certamente desajustada para a maioria dos adeptos, que ciosamente acompanham desde 14 de Agosto a presente edição da Liga. Nada mais certo, para mais quando, passe o exagero, cada um dos 18 participantes na prova já só têm à sua disposição 48 pontos para discutir. Porém, tendo em conta o que se passou, vá lá, nos derradeiros 15 dias, para mim o verdadeiro campeonato só agora arranca.

Com um líder indiscutível, sem dúvida, como é o Sporting, mas não tão firme como poderia adivinhar-se, especialmente a partir do momento em que venceu, categoricamente, os diretos rivais. Para muita gente, mesmo aquela que não tem o leão por preferência, a partir do triunfo frente aos portistas ficou a ideia de que dentro de uma certa normalidade, em Alvalade, se podia olhar com alegria para o futuro.

Porém, quando menos se esperava, duas formações que lutam, uma delas desesperadamente, Tondela, pela manutenção (a outra já perceberam que é o União madeirense) deixaram à vista algumas das insuficiências leoninas, até então muito bem calafetadas por Jorge Jesus e seus adjuntos. Ficou a perceber-se que o plantel não será tão rico como parecia, que há jogadores que estão em Alvalade mas com a cabeça noutros lugares, que o desgaste da época em alguns, caso de William Carvalho, começou a fazer sentir-se mais cedo. E nestas contas – se bem que alguns futebolistas têm lastro e muita qualidade – não estou a incluir o desastre de Portimão, porque a Taça da Liga, em que JJ tem sido especialista, nada tem a ver com a Liga.

Então, como superar os problemas evidenciados? O reforço do plantel, por muita oposição que se faça sentir por parte dos dirigentes, parece indiscutível… desde que seja com gente que faça a diferença. Leandro Damião, sim senhor, é excelente futebolista e punha, ou vai pôr, Teo Gutierrez de regresso à quentinha Colômbia, mas parece fundamental o reforço do sector mais recuado. Depois, por muito que isso custe ao presidente - uma vez que o corporativismo na arbitragem é desde (quase) sempre imagem de marca da classe – se não emudece por algum tempo… Sem qualquer especulação da minha parte, pois o passado prova-o indiscutivelmente.

Sem nunca ter estado fora da luta pelo título, para o sonhado tri, pois era impossível isso ser uma realidade quando faltava mais uma volta por disputar, o Benfica arrepiou caminho, aproveitou os deslizes alheios e sem jogar um futebol de espantar, mas muito pragmático e eficiente, já só está a dois pontos da liderança. Obviamente, em tudo aquilo que se passou há mérito de muita gente, mas muito particularmente do seu treinador.

Aos poucos, Rui Vitória foi entendendo a dimensão do Benfica, fez a adaptação, passou o cabo dos trabalhos mas foi dando à equipa a sua marca, mudou o que entendeu ser melhor para o seu estilo de jogo, mudou as peças que tinha de mudar, apostou em jovens que muitos de nós considerámos ser precipitado e, finalmente, fez frente ao seu homólogo de Alvalade. A juntar a esse murro na mesa, o Benfica recuperou para apenas dois pontos de desvantagem e, mais do que nunca, está na luta.

Podem perguntar-me: mas este futebol praticado pelo SLB é suficiente? A resposta é esta: a equipa que mais pontuou em Portugal depois do desaire no «derby» na Luz foram os encarnados. Fruto dos golos de Jonas, da segurança de Júlio César, da troca de Samaris por Fejsa, da disponibilidade de Renato Sanches e da criatividade de Pizzi. Se pensarmos que estão de fora Luisão, Nélson Semedo, Sálvio e que Gaitán tem estado muitos jogos ausente… Portanto, o Benfica está dentro e isso é bom para a Liga… e mantém o Sporting muito desperto.

Um pouco mais atrasado, mas muito a tempo, pois, repito, faltam disputar 48 pontos, está o FC Porto. Podia estar mais encostado, quem sabe, se Julen Lopetegui tem sido afastado mais cedo e por isso se diz que há teimosias que se pagam caro, mas com a chegada do novo treinador ainda vai muito a tempo de se intrometer na luta, embora isso não dependa exclusivamente dos seus resultados.

Fizeram bem os portistas (nunca há unanimidades com certas escolhas) em contratar José Peseiro. Sim, não é a primeira, nem a segunda, eventualmente a terceira escolha, mas tendo em conta o quadro, parece-me que o clube escolheu bem. O Peseiro de hoje não tem nada a ver com aquele que passou há 10 anos por Alvalade. Evolui, tem de estar mais firme no que à liderança diz respeito e com aquele há uma garantia: o FC Porto vai jogar mais e melhor do que o fazia. Para mais com jogadores de tão grande qualidade.

Quanto ao resto… há 48 pontos para discutir, mas a o campeonato, a sua discussão, fica reduzida aos três citados. É que se dúvidas houvesse, mesmo considerando que se podem imiscuir em certas decisões, o quarto da tabela, SC Braga, está 13 pontos do primeiro, e o Paços de Ferreira, que é quinto, já dista 16. Nessa medida, por muito que muitos queiram, a evolução é quase nula.

PS1 – Renato Sanches está condenado a deixar o futebol português mais cedo do que se pensava. Desde que se mantenha sustentado o seu crescimento, como tudo indica que acontecerá, beneficiando da visibilidade que lhe dá uma camisola como a do Benfica. Agora, no que diz respeito a valores parece-me que os ingleses estão a exagerar… Mas que os encarnados vão encaixar uma fortuna disso não tenho grandes dúvidas.

PS2 – Vítor Baía está «on fire» e não se tem calado nas críticas ao seu clube do coração reafirmando a sua disponibilidade para ocupar, pelo que se percebe, como Villas Boas, a sua cadeira de sonho. E pelo seu passado, se não me levarem a mal, tem todo o direito a emitir opinião. Nessa medida ser a mulher do presidente Pinto da Costa a assumir a defesa do poder portista deixa claro que o fogo do Dragão tem no presente menos intensidade…