Entre Linhas é um espaço de opinião com origem em declarações de treinadores, jogadores e restantes agentes desportivos. Autoria de Vítor Hugo Alvarenga, jornalista do Maisfutebol (valvarenga@mediacapital.pt)

«Esta é uma vitória importante porque, se calhar, somos a única equipa que já atingiu os objetivos. Temos 31 pontos e ainda falta quase meia época para jogar.»

O Arouca chegou neste fim-de-semana à linha pontual que lhe permite acreditar na permanência na Liga.

Ao vencer o União da Madeira (3-0), depois de atingir idêntico objetivo no Dragão (1-2), a equipa de Lito Vidigal terminou a 22ª jornada no 6º lugar, a par de Paços de Ferreira.

Por mais que o caminho para a localidade seja longo e penoso, torna-se urgente olhar para o Arouca com toda a atenção e pensar na tal via rápida reclamada pelo seu treinador após o sensacional triunfo frente ao FC Porto.

O clube arouquense continuará por cá, no convívio com os grandes, olhando já para a quarta época consecutiva no escalão principal, onde se estreou em 2013/14. Não anda pela Liga de passagem, contrariando algumas expetativas.

Sejamos honestos: o Arouca não acolhe enorme simpatia junto da opinião pública. Acredito que pague, antes de mais, o preço da interioridade.

Torna-se um adversário incómodo para os outros clubes da Liga porque, embora se encontre a apenas 60 quilómetros do Porto, obriga a uma viagem que se prolonga por perto de hora e meia, em velocidade segura.

Os adeptos, jornalistas, árbitros e demais intervenientes que têm de fazer o mesmo caminho também não sorriem quando são confrontados com o calendário.

A Estrada Nacional 326 é o grande fator de desencanto para quem segue viagem em direção a Arouca. Perante a inexistência de alternativas, torna-se necessário fazer perto de 40 quilómetros em linha curva, por entre montes e vales, para chegar a um palco da Liga.

Em jeito de comparação, Tondela está ao dobro da distância de Arouca – em relação ao Porto – mas oitenta por cento do percurso é feito por autoestrada.

O futebol não deve ter peso decisivo no debate sobre acessibilidades mas o percurso sustentado do clube da terra na Liga permite aos arouquenses reclamar com maior veemência um caminho digno para entrar e sair na vila.

Já não restam dúvidas, o Arouca conquistou o estatuto de clube de primeira. Como? Pelo que se vai percebendo, oferece mais que alguns rivais da mesma dimensão para convencer jogadores a enfrentar esse cenário de dificuldades. Aliás, nesta altura já determina que o grupo de trabalho more na localidade, para evitar o desgaste com as constantes deslocações.

Para além disso, construiu desde cedo uma base forte, sobretudo no setor intermediário, onde Nuno Coelho, David Simão, Artur e Pintassilgo foram ganhando raízes. Há espaço para melhorias, por certo, e nesse parâmetro aconselha-se uma reflexão do presidente sobre a forma como lida com o exterior, para além das questionáveis mudanças de palco em jogos pontuais, justificando os protestos de outros clubes.

O mérito está lá, de qualquer forma, e justifica os maiores elogios.

Vítor Oliveira garantiu a subida à Liga, Pedro Emanuel foi o responsável pela sobrevivência nas duas primeiras épocas e Lito Vidigal levou o Arouca para outro nível.

A competência de Lito é evidente. Tinha ficado demonstrada no Belenenses e afastou qualquer margem para dúvidas com 31 pontos à 22ª jornada na equipa arouquense, igualando desde já o melhor registo na prova.

Arouca está no mapa da Liga desde 2013 e por aqui ficará pelo menos até 2017. Suspeito que irá ainda mais longe.

Como tal, junto-me ao coro para reclamar a via rápida de acesso à vila.

Não me esqueço do dia em que, por engano, enfrentei a Estrada Nacional 326 até Arouca para descobrir que o jogo com o Belenenses, para a Taça de Portugal (2012/13) se ia realizar em Santa Maria da Feira.

Só há uma coisa pior que fazer uma viagem pela 326: fazer duas seguidas sem tempo para parar. Parar e respirar o ar puro, apreciar a beleza da vila, dos Passadiços do Paiva, das pedras parideiras e da Frecha da Mizarela na Serra da Feira e claro, a famosa posta arouquesa e o vizinho bife de Alvarenga, a Capital do Mundo.