PLAY é um espaço semanal de partilha, sugestão e crítica. O futebol espelhado no cinema, na música, na literatura. Outros mundos, o mesmo ponto de partida. Ideias soltas, filmes e livros que foram perdendo a vez na fila de espera. PLAY.

SLOW MOTION:

«MIKE BASSETT: ENGLAND MANAGER» - de Steve Barron

Advertência número um: o PLAY está a ser produzido antes da realização do FC Porto-Benfica.

Advertência número dois: é normal que, em caso de derrota da sua equipa no Clássico, o leitor queira desabafar e aproveite para isso o título deste PLAY.

Advertência número três: Julen Lopetegui e Jorge Jesus podem ter muitos defeitos (e virtudes, naturalmente), mas não me parece que ser um idiota possa fazer parte da lista. Ou então eu sou um ingénuo, incapaz de ver o mal numa figura humana.

Advertência número quatro: aproveitando a campanha de um canal especializado em desporto, já está tudo a falar do jogo no Dragão e quem gosta de futebol anda com isso na cabeça há dias. Eu, assumo, também tenho andado embrenhado no tema, tal como as reportagens dos últimos dias podem atestar.

Ora, para aliviar a pressão profissional e o bate boca incendiário, nada como umas boas gargalhadas. Daí esta sugestão. Um filme cheio de futebol e gags, com uma interpretação notável do ator Ricky Tomlinson.

Sim, o único idiota neste texto é só ele. Ou melhor, a personagem que encarna na película, o treinador Mike Bassett.

Tonto, distraído, incompetente, um perfeito imbecil. Nada com que Lopetegui ou Jesus tenham de se preocupar. Pelo menos, por ora, no instante em que escrevo estas linhas.

Segunda-feira o tom pode ser completamente diferente. Mas, vá lá, relaxem e riam. Mike Bassett é um perfeito idiota.



PS: «Interstellar» - de Christopher Nolan.
Intenso e complexo. Majestoso e intrincado. Vi o novo trabalho de Nolan há dois dias e ainda sinto dificuldades em descrevê-lo.

Reparem: ficção científica, descoberta espacial, tom apocalíptico, o traço peculiar de Nolan, naves, robôs, Matthew McConaughey, Matt Damon, Anne Hathaway, mundos tridimensionais, buracos negros, galáxias virgens, ondas monstruosas em planetas inexpugnáveis…

Se o leitor tiver uma mente aberta, valorizar a riqueza de efeitos especiais, apreciar uma boa banda sonora e finais surpreendentes, veja Interstellar. Se não andar com os níveis de paciência em conformidade, talvez seja melhor não aceitar a minha sugestão.

Seja como for, este será sempre um filme marcante de 2014. Do realizador de Inception: a Origem, Insomnia e Memento [excluo a trilogia mais recente de Batman por não apreciar o género], esperam-se sempre feitos memoráveis.

Ainda não sei se Interstellar está ao nível dos antecessores. Dêem-me mais uns dias.

 


SOUNDCHECK:

«ZINEDINE ZIDANE» - de Vaudeville Smash.

O vídeo é hilariante, o refrão vicia e não nos larga. Uma banda australiana a cantar sobre futebol, a recitar a paixão por um dos grandes futebolistas do século XX.

A música tem já alguns anos, mas só nas últimas semanas tropecei nela. Por acaso. E estava ansioso por divulgá-la. Ponham isto a tocar bem alto, confirmem que o patrão não está por perto, cantem até que a voz vos doa e os vossos colegas de trabalho vos mandem calar.  

Não que isso tenha alguma vez acontecido comigo…

«Cristiano Ronaldo, Wayne Rooney, Veron
Suarez, van Basten, Gianluigi Buffon
Xavi, Iniesta, Drogba, Hazard
Tevez, Schweisteiger, Steven Gerrard
Alesandro Del Piero, Neymar, Forlan
Ozil, Nakata, Jean-Pierre Papin
Ballack, van Persie, Beckham, Giggs, Scholes

But the strongest of them all:

Zinedine Zidane, Zinedine Zidane
Superstar... Superstar...
Zinedine Zidane, Zinedine Zidane
Superstar... Superstar...»




PS: «Lost in the dream» - The War On Drugs.

Em 2011, o álbum destes rapazes, Slave Ambient, prostrou-me. Estado zen, alma catatónica, sentidos em hibernação.

Kurt Vile, entretanto, saiu para se entregar a uma carreira a solo e, no novo disco, Adam Granduciel passou a carregar em exclusivo o peso do mundo e das (grandes) músicas da banda de Filadélfia.

Arranjos perfecionistas, refrões obsessivos, uma certa tensão que raramente consegue abandonar o estado de alma de Granduciel.

O otimismo não é para aqui chamado: «I’m in my finest hour/ Can I be more than just a fool?», cantam numa das melhores faixas do cd, «The Ocean In Between the Waves». É um dos grandes discos do ano e merece ser ouvido com concentração e tempo.        




VIRAR A PÁGINA:

«THE SECRET LIFE OF TONY CASCARINO» - de Paul Kimmage

Já ouviu falar de Tony Cascarino? Lembro-me bem dele. Ponta-de-lança alto, pouco hábil, com faro para o golo e tendência para comportamentos excêntricos.

Foi internacional pela Rep. Irlanda, esteve nos Mundiais de 1990 e 1994, e no Euro88. Há uns meses li a sua autobiografia, a conselho de um amigo atento, e achei-a interessantíssima.

Sem ser um nome grande ou sequer familiar para o adepto comum em Portugal, Cascarino tem uma história de vida muito rica.

Descobriu, já em adulto, que a mãe era adotada e que o sangue irlandês, que lhe vinha do avô, era, afinal, uma ilusão.

Descobriu também, que os mais de dois milhões de libras auferidos ao longo da carreira (Aston Villa, Chelsea, Celtic, Marselha, Nancy…) não lhe chegavam para ter uma existência descansada depois do adeus aos relvados. E decidiu avançar para este livro. Em boa hora o fez. 



«PLAY» é um espaço de opinião/sugestão do jornalista Pedro Jorge da Cunha. Pode indicar-lhe outros filmes, músicas e/ou livros através do e-mail pcunha@mediacapital.pt. Siga-o no Twitter.