«Se eu me chamasse Marrekovic» é uma rubrica do programa televisivo de desporto da TVI24 «Maisfutebol» (sextas-feiras, a partir das 22:00), da autoria de Luís Mateus, e que o próprio transpõe agora para o espaço digital. Criada a partir da frase original do futebolista Tozé Marreco, pretende destacar jovens jogadores portugueses em bom momento e a merecer maior atenção.

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Sim, a frase de Jorge Jesus não lhe era dirigida. Queria valorizar ainda mais Matic, que se tinha mudado para a Premier League, e que o então treinador do Benfica considerava o melhor seis do mundo. Na formação dos encarnados, um eventual substituto teria de nascer dez vezes para pisar as mesmas pegadas que o sérvio – alertava, ao seu jeito, o treinador.  

João Teixeira voltou esta época a Portugal, depois das experiências no Wolves e no Nottingham Forest, e prometeu, já no Bonfim, que esta seria a época de afirmação. A verdade é que o médio está precisamente a tentar nascer de vez, talvez pela quinta tentativa, para o futebol português. A aposta continua de pé, e a valer.

O prémio de revelação em 2014 para o próprio Benfica, com o crescimento sustentado na B e a estreia na Liga dos Campeões, frente ao Bayer Leverkusen, em dezembro desse ano, apontavam para um valor seguro a aproveitar em breve e na plenitude na formação principal. Não foi isso que aconteceu. Talvez por culpa própria, ou por falta de utilização contínua e por mais minutos, não conseguiu esclarecer algumas dúvidas que deixava no ar.

A II Liga manteve-se como palco, até ao primeiro empréstimo. O Vitória de Guimarães era o destino. Cinco jogos e um golo depois, rumou a Inglaterra para representar o Wolverhampton, e somou mais 17 encontros e dois golos marcados. Só que Paul Lambert deixou-o cair das opções, os Wolves cancelaram o empréstimo, e o emblema da Luz reenviou-o para Nottingham, onde voltou a não ser feliz.

Está agora no Bonfim, às ordens de José Couceiro, e com um 10 que até nem lhe fica mal nas costas. Tem ajudado a criar golo numa equipa com muitos jovens talentos portugueses, como Podstawski, André Pedrosa e Gonçalo Paciência, também eles à procura de consolidar as respetivas carreiras. Depois de ter chegado à equipa principal do Benfica ainda meio dividido entre os papéis defensivos e de construção, Teixeira apresenta-se hoje mais como um definidor, um homem de passe de rotura, pisando terrenos bem mais próximos da área.

Evoluído a nível técnico, apresenta valências no passe curto e longo, sustentadas por uma boa capacidade de decisão, que lhe permite alternar na perfeição entre jogar simples e eficaz ou procurar um lance de maior risco. Mantém-se agressivo na procura da bola, e tranquilo e maduro com ela nos pés. Vislumbra-se no horizonte um caminho tranquilo na evolução para um médio criativo de boa qualidade. Caso os deuses do futebol estejam de acordo, claro. Que é como quem diz: se tiver sorte nas escolhas e na ausência de lesões.

Nesta temporada é uma das unidades mais utilizadas por Couceiro, e já marcou um grande golo. Um remate fortíssimo à entrada da área, que fez o Vitória embalar para uma reviravolta de 0-1 para 3-1 frente ao Marítimo, a partir dos 79 minutos.

João Teixeira está pela primeira vez na carreira, a nível sénior, numa fase de continuidade, que tentará esticar o mais possível ao longo desta época decisiva. Aos 23 anos, e se mantiver os argumentos que tem apresentado, terá esta temporada como fundamental e precursora de todas as outras que chegarem depois, seja num grande ou numa equipa de classe média, por cá ou no estrangeiro.

É o momento que lhe dá razão. Esta tem de ser a época da sua afirmação.