«4x4x3» é um espaço de análise técnico-tática do jornalista Nuno Travassos. Siga-o no Twitter.

Em Portugal há muitos adeptos que confundem cultura de exigência com falta de cultura. É essa ilação a tirar dos assobios que a equipa do Benfica ouviu nos instantes finais da receção ao Eintracht Frankfurt, que venceu por 4-2, ou para a contestação dirigida à equipa do FC Porto após o empate em Vila do Conde.

As circunstâncias do jogo de sexta-feira até podem servir de atenuante, mas a reação imediata, tanto dentro como fora do estádio, foi manifestamente exagerada.

O que diriam esses adeptos se o FC Porto ainda acabasse a jornada como líder isolado?

É certo que o Benfica venceu depois em Braga e deu um importante passo na luta pelo campeonato, mas será que a equipa de Sérgio Conceição, que continua a defender o título conquistado na época passada, que está na final da Taça de Portugal, que voltou a honrar a história do clube na Liga dos Campeões, não merece uma reação mais ponderada?

Estes dois exemplos confirmam a ideia de que os adeptos portugueses, quase exclusivamente ligados aos denominados grandes, estão mal-habituados. Mas se o desconhecimento relativamente ao futebol internacional acaba por ser justificável (nem todas as pessoas têm possibilidade de acompanhar), o pior é mesmo a sobranceria com que se olha para o panorama competitivo interno.

O mérito dos pequenos raramente fica à altura do demérito dos grandes.

Esta visão não é exclusiva dos adeptos, mas é alimentada pelo fosso qualitativo na Liga. Os “grandes” são menos importunados do que já foram, mas não por terem mais qualidade, antes por uma quebra no nível médio. E isto tem repercussões na capacidade de resposta dos representantes lusos nas provas da UEFA.

Daí que, sem discordar do elogio de Sérgio Conceição à federação holandesa, por adiar uma jornada a pensar na preparação do Ajax para a meia-final da «Champions», prefira defender noutra perspetiva: antes de considerar os interesses dos “grandes” é preciso proteger os “pequenos”.

Talvez assim os adeptos passem a valorizar mais o que têm.

P.S. – Iker Casillas é a antítese dos problemas acima apresentados. Uma figura que acrescentou valor ao futebol português, dentro e fora do campo, e alguém que representa valores que muitas vezes andam em falta por cá. Que recupere bem e que continue a sentir-se feliz nas ruas do Porto ou de qualquer outra zona de Portugal, tenha ou não as luvas arrumadas.