Utilizado por Jorge Jesus em dezanove jogos do Benfica, Anderson Talisca foi substituído em doze ocasiões, mais do que qualquer outro colega. O jogo com o Belenenses, do passado sábado, foi o terceiro consecutivo em que o brasileiro saiu mais cedo, confirmando assim uma evidente quebra no rendimento.
 
Talisca foi a grande figura do início de época do Benfica, sobretudo pela capacidade concretizadora que apresentou, mas nesta altura até o número de substituições já é superior ao número de golos (nove), cumpridos cinco jogos sem marcar.
 
Sem essa capacidade goleadora, que surpreendeu até Jorge Jesus, responsável pela sua contratação, a influência de Talisca na equipa caiu a ponto de começar a discutir-se a titularidade, algo impensável há um mês.
 
A realidade é que a influência do brasileiro estava sustentada quase em exclusivo nos golos, e muitos deles decisivos. Mas isso só pode ser suficiente, pelo menos a longo prazo, para alguém que joga a «9», o que não é o caso. A quem joga como segundo avançado, neste Benfica, pede-se mais: exploração do espaço entre linhas e do espaço entre laterais e centrais contrários, sobretudo, vertentes em que Talisca não tem sido muito útil.
 
As crescentes dúvidas em torno da titularidade de Talisca estão também relacionadas com a integração de Jonas na equipa. O ex-Valencia foi a unidade mais adiantada da equipa nos jogos com Académica e Belenenses, mas antes confirmou sagacidade a explorar os terrenos baldios em redor do ponta de lança, vestindo a pele de segundo avançado com grande inteligência, ou não estivesse na cabeça a sua principal qualidade.
 
A titularidade de Talisca está, por isso, mais agarrada à (ir)regularidade das opções para a posição «9» (Lima e Derley), do que propriamente deste «duelo» com Jonas.
 
Talisca precisa de mostrar, portanto, que a sua utilidade vai para além dos golos que entretanto começaram a escassear. Sobretudo naqueles jogos em que o adversário se apresenta mais fechado, e nos quais tende a «desaparecer» no meio da muralha defensiva contrária.
 
O antigo jogador do Bahia revela evidentes dificuldades para jogar em espaços reduzidos, nomeadamente quando recebe a bola de costas para a baliza. É bem mais eficaz quando tem possibilidade para pegar no jogo de frente, quando tem espaço para progredir, e porventura até com abertura para tentar a potente meia-distância.
 
E é nesse sentido que Talisca se perfila como o principal candidato (interno) à sucessão de Enzo Pérez, caso o argentino venha mesmo a sair na reabertura de mercado.

«4x4x3» é um espaço de análise técnico-tática do jornalista Nuno Travassos. Siga-o no Twitter.