Após quatro vitórias consecutivas, o FC Porto voltou a vacilar. O ciclo positivo, que permitiu a aproximação ao Benfica na Liga e a qualificação para os oitavos-de-final da Liga dos Campeões, foi interrompido no Estoril, num jogo em que Julen Lopetegui decidiu juntar Adrián a Jackson Martínez.

No último desaire, a eliminação da Taça de Portugal frente ao Sporting, o técnico espanhol tinha seguido a mesma opção, embora aí com dois falsos extremos – Quintero e Óliver -, ambos com tendência para procurar a zona central do terreno.

Desta vez com Brahimi e Quaresma nas alas, o FC Porto prescindiu ainda mais da zona central do terreno. O argelino até está talhado para deambular entre a linha e a posição 10, mas na Amoreira apareceu demasiado agarrado à linha. Mais até do que Quaresma, que para permitir as subidas de Danilo procurou zonas mais interiores, mas sem conseguir esconder que longe da linha é como peixe fora de água.

Com Adrián a rubricar mais uma exibição paupérrima, incapaz de explorar o espaço entre linhas, o FC Porto foi sempre uma equipa partida, com muitas unidades na frente mas Herrera e Casemiro dominados ao centro por Anderson Esiti, Diogo Amado, Babanco e Tozé.



O médio cedido precisamente pelo FC Porto ao Estoril foi uma das figuras do encontro, não só pelo golo marcado aos «dragões», na conversão de uma grande penalidade cometida sobre si, mas também pelo papel tático que desenhou.

José Couceiro apostou em Tozé como «falso nove», num 4x3x3 que muitas vezes formava um losango, com Anderson Esiti mais fixo, Amado e Babanco como interiores e Tozé a «10». Uma estratégia que visava reforçar a zona central, e que saiu beneficiada com as opções de Lopetegui.

Abertos nas alas, Kuca e Sebá controlaram a subida dos laterais portistas, embora procurando sempre manter um posicionamento propício à saída para o contra-ataque. Para isso estavam protegidos pelos médios interiores (Amado e Babanco), que se podiam dar ao luxo de assumir essa responsabilidade, tendo em conta o apoio de Tozé, que recuava no terreno, e ainda o posicionamento de Esiti, à frente da defesa, sem grandes dores de cabeça com Adrián.

Se tivermos em conta que um dos médios do FC Porto ainda recuava muitas vezes para o meio dos centrais, para dar início à construção de jogo, sobrava apenas um outro jogador azul e branco na zona central, e pelo menos três do Estoril.





Em contrapartida o FC Porto apostava muito na projeção ofensiva dos laterais, sobretudo com Danilo, que logo nos minutos inicias foi várias vezes solicitado através de passes longos, mas a equipa de José Couceiro controlou relativamente bem o jogo exterior do adversário, que sentiu dificuldades para encontrar alternativas.

A aposta em Adrián voltou, por isso, a ter um efeito negativo no FC Porto, não só pelo encaixe tático, mas sobretudo pelo fraco rendimento do espanhol. O avançado recrutado ao Atlético de Madrid tem estado muito aquém do esperado, tendo em conta aquilo que mostrou no país vizinho, e alimenta as dúvidas levantadas desde que chegou, não tanto em torno do seu valor, mas sobretudo relativamente à forma como pode encaixar taticamente na equipa.

E para Lopetegui ter confiança neste desenho com dois avançados é preciso contar com o velho Adrián, ou então a companhia de Jackson terá de ser outra (Aboubakar). Mas seja qual for a solução parece inevitável dar outra robustez à zona central.

«4x4x3» é um espaço de análise técnico-tática do jornalista Nuno Travassos. Siga-o no Twitter