«4x4x3» é um espaço de análise técnico-tática do jornalista Nuno Travassos. Siga-o no Twitter.         

Já se apontava um prego ao caixão do tiki taka, mas a Espanha começou a defender o título europeu com o pé direito. Sem querer tirar mérito à cabeçada de Piqué, que passou de antipatriota a herói nacional com a velocidade habitual, o que fica na memória é mais uma exibição de gala de Andrés Iniesta, coroada com aquele cruzamento para o golo, ao minuto 87.

O mágico de Fuentealbilla juntou-se ao restrito lote de jogadores com assistências em três Europeus (só Klinsmann, Poborsky, Robben e Schweinsteiger o tinham conseguido), e voltou a encarnar uma filosofia de jogo que pode até ter prazo de validade na «Roja», mas que nunca desaparecerá da história. Tal como o próprio Iniesta.

Podemos contar os passes para trás ou medir o caudal ofensivo pelo número de remates. Podemos até discutir se o ponta de lança deve ser móvel ou imponente, mas o futebol não é uma ciência exata, e não basta ver algo de errado na forma para deitar fora o conteúdo.

O mundo gira e as peças já não encaixam tão bem, mas foi com este puzzle que a Espanha festejou em 2008, 2010 e 2012, num dos ciclos mais marcantes da história do futebol. Iniesta não deixa isso cair num esquecimento fútil.

Com ele não há passes inúteis ou quilómetros a menos. A bola corre sempre na medida certa, no tempo oportuno. Por mais sedutor que seja aquele pé direito, Iniesta pertence ao restrito lote de jogadores que se destacam pelo jogo de cabeça (que não é o mesmo que jogo aéreo). E a mente, formatada em Barcelona, diz-lhe sempre que a bola é o centro do jogo, e que tê-la é comandar o destino com os pés.

Iniesta não jogará para sempre, mas com ele o «tiki taka» viverá sempre. Como jogador ou noutro papel qualquer. Mas para já continuemos a desfrutar da sua magia.