Cinco ideias sobre o segundo lugar de Portugal no euro de sub-21:
 

1. Portugal foi claramente a melhor seleção da prova. Pena ter feito jogo menos conseguido na final.

E não foi apenas nesta fase final na República Checa: Portugal já tinha sido durante a fase de qualificação: dez jogos, dez vitórias.
 
A fase final na Rep. Checa confirmou uma seleção portuguesa de qualidade, nem sempre espetacular, mas a revelar uma eficácia competitiva notável para a média de idades destes jogadores.

Em 15 jogos neste europeu, Portugal somou 12 vitórias, três empates, zero derrotas. Só não marcámos em dois jogos (com a Itália e nesta final). Na Rep. Checa, só sofremos um golo (com a Suécia, na fase de grupos).
 
Esta equipa junta talento (Bernardo Silva, então...) com grande maturidade. Tem craques, mas tem, acima disso, um coletivo forte. É uma equipa muito equilibrada, fortíssima a defender, de domínio e posse. A chave deste segundo lugar estará nesta conjugação.
 
O percurso até à final foi sólido. Notável, mesmo: depois daquele apuramento com cem por cento de vitórias, o grupo prometia dureza – Itália, Suécia, Inglaterra.
 
O triunfo sobre Inglaterra foi claro; com a Itália, o 0-0 foi positivo, ainda que suado; frente à Suécia, boa exibição em grande parte do jogo, 1-0 aos 82 a quase resolver quem precisava apenas de um empate, e 1-1 no final a não revelar a superioridade em campo, mas mais do que suficiente para festejar a passagem à «meias».
 
E depois veio o tal jogo com a Alemanha. Um daqueles dias em que correu mesmo tudo bem. Espécie de Lei de Murphy ao contrário. Ora, 5-0 à Alemanha numa meia-final de um europeu é sempre um grande acontecimento. Um resultado para a história.
 
Não acontece por acaso. Não é «sorte». Tem mesmo que significar muita coisa.
 
E significou: confirmou a maturidade e a qualidade de uma equipa com executantes de nível acima de qualquer suspeita (Bernardo Silva, William Carvalho, Sérgio Oliveira, João Mário), com um guarda-redes enorme (José Sá, que revelação!) e acima de tudo com um coletivo que soube arriscar quando era preciso, que soube controlar quando era aconselhável, que soube sofrer (aguentar aquele 0-0 com Itália no segundo jogo foi determinante) e que foi (quase) sempre superior aos adversários.
 

2. O que falhou na final com a Suécia

Depois de percurso brilhante até à final, Portugal partia como favorito para esta final de Praga.
 
A equipa de Rui Jorge começou bem o jogo, esteve pertíssimo de marcar bem cedo (remate de Ricardo, Sérgio Oliveira de livre à trave), mas o 1-0 não apareceu e, com o passar dos minutos, a Suécia foi aparecendo.
 
Portugal jogou quase sempre mais e melhor, mas faltou sempre a finalização. Calculista e disciplinada, a Suécia defendeu bem e por vezes saía com algum perigo (mas só nos remates de longe criava algum perigo, aparecendo sempre José Sá com segurança).
 
O 0-0 prolongava-se, aumentava o clima de final sem golos, com o mínimo risco de parte a parte. Mas não faltaram ocasiões para que Portugal evitasse o prolongamento.

Após os 90, até aos 120, a parte física contou em demasia. Rui Jorge não geriu muito bem as substituições, queimou cedo as três.

 entrada de Gonçalo Paciência não foi bem aproveitada, de tal modo que o ponta de lança portista acabou por ter que encostar a uma ala em alguns momentos. A Suécia teve fases de algum domínio no prolongamento. Mesmo assim, chegados aos 120, Portugal teve saldo de ocasiões e qualidade de jogo claramente superior aos suecos.
 
O resto... já se sabe: Esgaio falhou, William falhou (mérito do guarda-redes sueco). José Sá só travou uma. Perdemos nos penáltis, portanto. 


3. A renovação com Rui Jorge, em outubro de 2012, foi momento chave

Rui Jorge é selecionador nacional de sub-21 desde 2011. Em setembro de 2012 falhou o apuramento para o play-off de acesso para o euro-2013 (por um golo, apenas...) e terminava contrato. A FPF entendeu renovar o vínculo e esse foi momento decisivo.
 
Uma presença na final do Euro (e só caindo nos penáltis...) é mérito de muita gente e só é possível com trabalho de equipa. Mas boa parte do crédito deve ser atribuído ao técnico, de 42 anos, que começou a sua carreira no banco como treinador dos juniores do Belenenses, chegou a treinador principal e teve a humildade de aceitar voltar a ser treinador dos juniores do clube do Restelo (os grandes profissionais também se veem em decisões assim).
 
Sereno e ponderado, não perde a cabeça nos momentos complicados e não entra em euforias desmedidas na hora das vitórias, à medida do que já era como jogador (foi dos melhores laterais-esquerdos das últimas duas décadas no futebol português).
 
Montou equipa forte, aproveitando os talentos que tem, mas sempre ao serviço do coletivo.
 
Percebeu que o potencial imenso de Bernardo Silva exigia uma adaptação tática para aquele «losango» que permite que o mago do Monaco sirva de «joker» para Ivan Cavaleiro e Ricardo Pereira.
 
Depois desta campanha, fará todo o sentido que Rui Jorge se mantenha no cargo. E talvez também faça sentido que perspetive percurso mais prolongado nas seleções nacionais (quem sabe, daqui a uns anos, como selecionador dos «AA»).
 
 
4. A aposta certa nas equipas B

Portugal sempre teve bons talentos nas camadas jovens. Mas durante vários anos (primeira década do século XXI sobretudo), muitos deles passaram demasiado despercebidos.
 
Esta seleção de sub-21, que agora chega ao título europeu, não tendo só craques (Bernardo Silva e William Carvalho já são nomes fortes no plano internacional, os outros nem por isso), tinha um leque muito alargado de jogadores de qualidade.
 
Basta ver quem começou no banco nesta final com a Suécia: João Cancelo, Rúben Neves, Iuri Medeiros, Rafa Silva, Ricardo Horta...
 
O talento sempre cá esteve. O que terá mudado, para melhor, nos últimos três ou quatro anos foi um melhor enquadramento competitivo dos jovens jogadores portugueses.
 
A decisão, a meio da época 11/12, de introduzir as equipas B na segunda liga profissional foi aposta ganha. Ajudou a acelerar esse enquadramento, aumentou número de minutos utilizados em contexto competitivo exigente de valores com idade de transição entre juniores e seniores.
 
 
5. Há muitas razões para acreditar em próximos anos risonhos no futebol português

Os factos estão aí, só não os deteta quem não quiser: final do mundial sub-20, em 2011, na Colômbia (derrota 2-3); final do euro sub-19, em 2014, frente à Alemanha (derrota 0-1); quartos de final do mundial sub-20 há poucas semanas (e com qualidade de jogo mais do que suficiente para chegar bem mais longe); final do euro sub-21 em 2015 (e mais uma vez, perdendo nos penáltis).
 
Sim, há um problema nas grandes decisões que temos que resolver (são demasiadas derrotas nas grandes penalidades, podendo aqui somar as meias-finais do Euro-12, com Espanha). Mas isso também se trabalha e pode ser melhorado, claro.
 
O futebol português tem muitas razões para acreditar num futuro risonho, olhando para a qualidade que as seleções mais jovens têm revelado, de forma consistente, nos últimos anos. Assim a saibamos merecer.
 
Importante, agora, é dar continuidade a isto. Quem sabe já nos Jogos Olímpicos do Rio-2016. Chegar lá, já agora, era o primeiro grande objetivo desta presença na República Checa. 

Custa sempre perder uma final. Por penáltis, ainda mais. Mas sabe bem olhar para a qualidade do percurso desta equipa de Rui Jorge. É essencialmente isso que fica. 
 
«Nem de propósito» é uma rubrica de opinião e análise da autoria do jornalista Germano Almeida. Sobre futebol (português e internacional) e às vezes sobre outros temas. Hoje em dia, tudo tem a ver com tudo, não é o que dizem?