Não existem lideranças perfeitas, nem mesmo quando se vence. E para começar, parece-me ser importante reforçar que endeusar qualquer treinador porque vence é o primeiro passo para criar frustrações mais tarde ou mais cedo. Na liderança do treinador do nosso clube, existem alguns de nós que conseguem separar o clubismo e a análise. E por isso  temos portistas que não são fãs da liderança do seu treinador e existem não portistas que são fãs da liderança do Sérgio. Há de tudo e neste caso, ainda bem. Já tinha feito a análise do seu perfil no início da época desportiva aqui no Maisfutebol e hoje torna-se mais justo - até para mim - perceber se foram confirmadas as minhas observações ou não.

Deixo aqui 11 pontos (estamos em futebol, é bem melhor serem 11 do que 10 ou 12) da liderança do Sérgio Conceição que ajudaram, na minha opinião, a sua equipa a chegar onde chegou.

As evidências científicas assim o defendem e o Sérgio Conceição ajudou a confirmar. A nossa liderança é mais eficiente quanto mais alinhado for o nosso perfil e o perfil de liderança que o contexto assim o exige. Sabendo que o comportamento do líder por si só não chega, juntaram-se outras circunstâncias que tornaram aquele comportamento o mais correto e que o contexto em si necessitava. Autenticidade de existir contexto para se fazerem as coisas à sua maneira.

A cultura organizacional do contexto e aquela que faz parte do estar e ser do treinador. Mais uma vez, as contas estiveram alinhadas. Não sabemos apostar se para o ano o contexto e os jogadores sofrerão as mesmas consequências positivas do Sérgio, mas para este ano, a cultura do Sérgio casou na perfeição com aquilo que o Porto estava à procura e conseguia oferencer.

Nem tudo foi perfeito (e nunca será). O comportamento do Sérgio em algumas situações retirou discernimento ao plantel do Porto, especialmente nos jogos onde a equipa não teve a capacidade desde do início de assumir o controlo.

Como todos os treinadores, Sérgio foi confrontado com lesões. E tal como aconteceu a Rui Vitória, Abel Ferreira, Jorge Jesus, etc., Sérgio soube e conseguiu encontrar as soluções dentro da equipa. E embora o tenha afirmado, raramente o ouvimos retirar valor aos que lá estavam mencionando que o clube não tinha tido a capacidade financeira de ir buscar fora.

Relativamente ao campeonato, perdeu algumas vezes a vantagem que tinha em termos pontuais. Mas provavelmente no jogo do título, conseguiu reverter ao intervalo o controlo que não estava a ter do jogo e foi mais incisivo na procura até ao final do jogo da vitória que lhe daria novamente o primeiro lugar na classificação.

A liderança tem destas coisas e só acontece a quem está lá dentro. E passado 3 dias, a assertividade demonstrada e bem na Luz, ficou mais reservada em Alvalade. Por muito que não se goste, a história dá-nos sempre indicações que nem tudo nem todos conseguimos ter o mesmo resultado em diferentes contextos.

A gestão de um ego como o de Casillas deve ser um desafio para qualquer treinador. A gestão realizada e que em determinada altura parecia que poderia descambar, revelou-se eficiente entre o jogador espanhol e o José Sá.

Voltando aos espinhos da liderança do Sérgio Conceição, a sua espontaneidade e liderança mais autêntica, fizeram-no perder – na minha perspetiva – o controlo do conteúdo em algumas conferências de imprensa. Não quero com isto dizer que ele disse coisas que não queria, apenas afirmo que provavelmente perdeu o controlo de como o exteriorizar. 

Imagem de marca. Todos os líderes criam com mais ou menos tempo uma imagem. Que pode ser um discurso regular, gestos, posições, comportamentos. Sérgio teve várias e provavelmente a roda no final do jogo foi uma delas. Que ficará para recordar, nem que seja, porque quando o seu sucessor vier, a mesma roda nunca terá o mesmo efeito.

Autenticidade, Objetividade e Conflitualidade. Se me perguntassem as três características comportamentais que destacaria do Sérgio seriam estas. Ligadas ao seu perfil de liderança, ao modo como baliza o que pretende e ao seu lado mais relacional.

Uma nota breve sobre a conflitualidade. A mesma pode ser positiva ou negativa, tal como todas as outras. A nossa cultura vai defendendo que esta coisa do conflito é má. Pode ‘limpar’ mal-entendidos.

Futuro. Disse-me em tempos que não mudaria. E eu acredito em parte. Porque a maturidade faz com que passemos com o tempo a considerar mais as ideias dos outros não como opostas às nossas, mas como outros caminhos para chegar ao mesmo caminho. Mas acredito que será muito similar daqui a 10 anos ao que foi neste ano. Especialmente se o clube onde estiver lhe proporcionar ser como ele considera que é o melhor.