Esta semana fomos brindados com um vídeo do balneário da seleção nacional após a vitória frente aos franceses na final do Euro 2016. Um discurso emocionado e sentido do capitão da seleção, Cristiano Ronaldo, que, quer se goste ou não, continua a bater recordes. E esta semana, na minha opinião, veio dar ainda mais uma prova da sua liderança do grupo de trabalho que era a seleção e uma excelente e maior prova da condição de liderado ao aceitar a importância e o papel que o selecionador Fernando Santos lhe destinou.

Muitos discordaram daqueles empurrões ao treinador na final, da atitude dele para Moutinho e de outras mais. Mas, infelizmente para quem não gosta de Ronaldo, os líderes são avaliados por duas razões, acima de todas as outras: pelos resultados e pelo modo como os atingem (processo). E quer nos resultados, porque os mesmos foram atingidos e foram excelentes, quer pelo processo, Ronaldo e Fernando Santos conseguiram tirar o melhor de cada um e saíram as três partes beneficiadas: o treinador, a equipa e o jogador em questão.

Não consigo conceber (é uma crença) o sucesso a médio-longo prazo numa relação treinador-equipa que não se baseie num compromisso constante e numa evolução do saber fazer e estar dos jogadores. E isso, a médio-longo prazo, só se consegue partilhando a responsabilidade, compromisso, alinhamento e tomadas de decisão entre todas as partes. Sem que isto signifique um 50 por cento para cada lado (treinador e equipa) nem um 99 por cento para o treinador e 1 por cento de liderança apenas para a equipa.

Ontem perguntavam-me como é que isso se conseguia numa equipa e como «medir» a quem se partilha mais e menos, bem como a quantos jogadores por cada equipa. Na verdade não existem respostas «fechadas e exatas» para esta pergunta. Nem todos os treinadores estão dispostos a ceder algum do seu controlo, poder e liderança para os outros. Sentem-se menos confortáveis com isso e preferem a certeza de controlar tudo, mesmo que isso signifique ir mais devagar, do que o risco de ceder, mesmo sabendo que pode significar ir mais longe.

Aquilo que aconteceu é fruto de uma maturidade de todas as partes que não se alcança de um momento para o outro. É fruto de uma análise racional e ponderada do treinador. Correu bem e por isso é que os que o defendem reforçam muito esse caso? Sim! Mas mesmo que não nos levasse ao título, era ter a certeza que fazendo isso, estaríamos sempre mais perto do título ou do sucesso, seja isto o que for.

Os treinadores de hoje acabam sempre por ceder um pouco da sua liderança. Essa quantia que estão dispostos a ceder depende do treinador e de o atleta estar disposto a receber. Luisão é um exemplo de quem, não sendo o defesa central em melhores condições técnicas ou físicas, preenche outro campo fundamental. No Porto, tenta-se encontrar aquele jogador que faça essa ligação entre o campo e o treinador, sendo que, na minha opinião, ainda não está totalmente encontrado ou assumido pelo treinador quem pode fazer isso. No Sporting, Adrien é nuclear, dizem alguns. Sim, mas muito mais enquanto líder do que jogador (não descurando a sua qualidade).

É só estar atento. A história encarrega-se de nos mostrar. Resta saber se estamos dispostos a observar.