Creio que é a terceira vez que escrevo publicamente sobre o Sérgio Conceição. A primeira aconteceu aquando da final da taça de Portugal do ‘seu’ Sporting de Braga que terminou derrotado. A segunda vez, após ser comunicado que seria o treinador do FC Porto para a presente época. Entre estes dois textos, tive oportunidade no verão de 2016 falar pessoalmente com o treinador português sobre a crónica escrita e publicada uns dias antes da final do Jamor e das suas declarações no sábado antes da Taça de Portugal sobre o perfil de treinador que lhe tinha ‘perfilado’.

Hoje, a súmula do que foi escrito está ainda mais comprovado para mim. Conceição é um treinador a quem a literatura sobre a área da liderança do treinador define como um líder emocionalmente genuíno. Provavelmente o leitor poderá questionar-se ou questionar-me se isso implicará que os outros treinadores não são genuínos. O ser um líder genuíno não quer dizer que é verdadeiro. Ou melhor, que os outros não são verdadeiros. Ser um treinador genuíno quer dizer que o líder realiza-se acima de tudo ao sentir que a equipa se comporta e joga segundo aquilo que são especialmente as suas ideias. E aqui não falo de táticas ou disposições em campo. Falo de atitudes e comportamentos.

Isto é percetível como? Fazemos uma triangulação geralmente para obter estas conclusões. Que uns podem considerar especulação, aceita-se. Observamos os comportamentos e escutamos o que diz. Lemos e escutamos o que os atletas – neste caso – dizem do treinador. E aqui já obtemos dois dos lados do triângulo. Falta um terceiro que neste caso apenas seria percetível estando lá dentro dos treinos e balneário com o treinador. Infelizmente não tenho acesso a isso.

Geralmente, um treinador no início da sua carreira tem mais comportamentos de liderança genuína do que os comportamentos que se observam após muitos e diversos episódios da «viagem» da sua carreira: uma liderança mais flexível a que chamamos de liderança situacional. Estes também são verdadeiros. E frontais. Genuinamente acreditam também nas suas ideias. Só que a sua realização ou enfoque está mais direcionado para que a equipa apresente comportamentos que têm muito de si. Ou seja, é facilmente percetível que um treinador não perde ou ganhe competências quase por magia quando sai de um clube para o outro e começa logo a vencer ou a perder. Percebemos que o contexto do clube e da competição têm um peso brutal naquilo que são as suas tarefas. Também percebemos que a liderança mais genuína está menos preparada para estes contextos e que um líder mais situacional é mais flexível do que assertivo.

Não há e nem era o objetivo deste artigo defender que um é melhor que o outro. Apenas tentar casar aqui dois aspetos muito relevantes: repito, como o fiz no meu segundo artigo sobre o Sérgio Conceição, parece-me que o treinador está num contexto e numa situação em que se complementam muito as necessidades, os desejos e as valências das duas partes. Não sei se chega para vencer ou não. Mas ajuda. Num Porto para o título como num clube para subir. O estilo de liderança de qualquer treinador tem de estar alinhado com muitas coisas para lá daquilo que é o seu sistema ou modelo preferido. Ou ter os jogadores que gostaria. Há mais para lá disso. Muito mais.