«Também já fui emigrante e da primeira vez que saí de Portugal via todos os dias a RTP-Internacional. Vejam lá, via programas que nem sabia que existiam, tantas eram as saudades. Eu via a RTP-Internacional, eles vão ver os jogadores, portanto imaginem, é uma maravilha. Infelizmente, não lhes posso dar tudo.»

A Seleção Nacional chegou na quinta-feira a França e foi recebido por centenas de adeptos. Tal como aconteceu na Suíça, em 2008 – sobretudo em Genebra e Neuchatel -, Portugal não jogará verdadeiramente fora do seu país.

Fernando Santos, que já foi emigrante, sabe como evolui o sentimento patriótico de alguém que tem de abandonar a família e a sua zona de conforto para criar raízes em outro sítio qualquer.

Atrevo-me a dizer até que há mais amor à pátria nestes homens e mulheres que em muitos de nós, os resistentes neste paraíso à beira-mar plantado.

Foi das poucas coisas que falhou na assinalável estratégia de comunicação da Federação: não somos 11, nem sequer 11 milhões. Somos bem mais que isso. É difícil quantificar, de facto, mas o slogan coloca a um canto a nossa maior força em França.

De acordo com o estudo «Emigração Portuguesa. Relatório Estatístico 2015», do Observatório de Emigração, existem mais de 2 milhões de emigrantes portugueses espalhados pelo Mundo e cerca de 600 mil em solo gaulês.

Somos o país da União Europeia com maior percentagem de cidadãos a viver fora do país de nascença e o número subiu consideravelmente nos últimos anos, por força da crise económica.

Ainda de acordo com o estudo acima citado, esta fatia considerável do nosso povo enviou – números de 2014 – cerca de três mil milhões de euros para Portugal, ou seja, cerca de 1,8% do PIB anual.

É rara a família portuguesa que não tem um emigrante lá por fora. A minha anda pelo Luxemburgo. A da minha mulher por França e Suíça, agora também por Inglaterra. Milhares e milhares de pessoas a ansiar pelo mês de agosto e por tudo o que não sabemos verdadeiramente apreciar.

Nas próximas semanas veremos festas e mais festas de orgulho lusitano em França. Veremos as camisolas, as bandeiras os fios de prata ou ouro. Os carros potentes com jantes vistosas. Os acordeões e as concertinas. A cerveja. O vinho em malgas. O presunto e os tremoços.

São gerações atrás de gerações de honrados portugueses. Por vezes atropelam a língua, é certo, provocam-nos um sorriso mas justificam todo o nosso reconhecimento.

É ainda mais tocante perceber que está a surgir um novo grupo. Inúmeros adolescentes e jovens adultos que, mesmo sem terem a nacionalidade lusa, ostentam com sentido patriótico os símbolos nacionais.

São a nova geração, os rapazes que cresceram com Anthony Lopes e Raphael Guerreiro. Portugueses de coração.

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Temos de contar com eles, com todos, para sonhar com o sucesso em França.

Por mais que se passe uma mensagem de esperança, não acredito que esta Seleção tenha capacidade para vencer o Europeu. A nossa oportunidade foi em 2004 e já passou.

A análise fria leva-me a esta conclusão mas espero que Cristiano Ronaldo e seus pares me atirem com estas linhas à cara.

O que peço à Seleção Nacional, a este bom grupo de jogadores, é que honre a camisola. Que consiga apagar, sobretudo, a péssima imagem do Mundial 2014. Já seria bom para início de conversa.

Correr. Suar. Gritar. Fintar. Rematar. Festejar. Começar de novo. Uma e outra vez.

Honrem a bandeira. Por vós, por nós e sobretudo ‘pour eux’ (para eles), que muitas vezes são mais Portugal que eu.

Entre Linhas é um espaço de opinião com origem em declarações de treinadores, jogadores e restantes agentes desportivos. Autoria de Vítor Hugo Alvarenga, jornalista do Maisfutebol (valvarenga@mediacapital.pt)