Ainda a Supertaça. O Sporting venceu, com alguma felicidade pelo golo-a-meias, mas venceu bem. Para quem ficou a remoer na palavra «felicidade» sublinhe-se: venceu bem.

Apresentou ideias claras de jogo, novas em Alvalade, mas já com provas dadas e manteve-se fiel às mesmas, apesar das poucas semanas de trabalho e, acrescente-se, das ausências por lesão de William Carvalho e Ewerton.

Entrou melhor, mais intenso na procura na bola, mais alto na pressão e mais fluido e rápido nas saídas, e quebrou o rival numa altura em que o golo já ameaçava, logo no início da segunda parte. É verdade que o Benfica teve as suas oportunidades, mas esteve a maior parte do tempo amarrado a uma tripla sem grandes perspetivas de sucesso, como foi a formada por Fejsa, Samaris e Talisca.

Jesus tem um ego grande, que lhe permite dizer uma ou outra coisa que não deve, mas também ter uma confiança enorme para querer começar tudo de novo uma e outra vez. A partir dessas ideias bem solidificadas na cabeça do seu treinador, o Sporting foi ao mercado e reforçou-se com talento e experiência (sim, mudando o paradigma e podendo eventualmente tapar, a curto/médio prazo, um ou outro nome da formação). Mesmo com as dúvidas que são Ciani e ainda Bruno Paulista, Bryan Ruiz, Aquilani, Teo Gutiérrez e mesmo Naldo acrescentam valor ao plantel leonino, que também já se desembaraçou de alguns equívocos, como Slavchev, Rosell e Labyad, e de um peso-morto que seria já Capel.

O treinador do Sporting construiu o seu grupo e o triunfo no Algarve, além de reforçar a sua aura de vencedor, abre ainda mais a esperança leonina para uma época com «finais», como ele tanto gosta de lembrar.

Embora sem que o Benfica tenha conseguido testar verdadeiramente a posição 6 do leão (Adrien), destaque para a forma como este e sobretudo João Mário cresceram para o meio-campo encarnado, com Carrillo, Bryan Ruiz, Teo e mesmo Slimani a participarem bem na vertigem que começa a nascer nas oficinas de Alcochete. Atrás, João Pereira e Jefferson continuam com pulmão para o carrossel, Paulo Oliveira mantém-se exemplar e Naldo esforça-se (apesar de um ou outro momento menos eficaz) para que não se fale muito de Ewerton.

Sendo obviamente apenas um jogo e ainda por cima um dérbi, que tem sempre particularidades especiais – que nos obrigam a manter a prudência , a ideia que fica é que o Sporting já levantou os alicerces sobre os quais crescer. O caneco trazido do Algarve ainda aumenta mais o balão de confiança para os próximos desafios.

LUÍS MATEUS é subdiretor do Maisfutebol e pode segui-lo no TWITTER. Além do espaço «Sobe e Desce», é ainda responsável pelas crónicas «Era Capaz de Viver na Bombonera» e «Não crucifiquem mais o Barbosa» e pela rubrica «Anatomia de um Jogo».