Sim, há futuro. Nunca houve dúvidas, e não falta quem pense nele. Só que o futuro também se agarra – uma frase-feita do futebol, e que desta vez podemos aplicar no momento certo.

Numa mesma altura em que Portugal tem a presença no Europeu bem encaminhada – sim, com os três golos do suspeito do costume Cristiano Ronaldo na Arménia – a formação tem afirmado nas últimas semanas que estará pronta para o selecionador quando este achar que é a altura de rejuvenescer as fundações da Seleção.

Sempre fui favorável a uma renovação sustentada e, ao mesmo tempo, mais evidente da equipa nacional depois do Campeonato do Mundo. Achei e acho que o apuramento para o Europeu não seria assim tão complicado e acreditava e acredito que as transições suaves costumam ser mais eficazes do que súbitas mudanças de estatuto ou roturas. Ao esperar que certos nomes não possam mais para tomar decisões e até recuperando quem já tinha sido ou se tinha afastado – fazendo um regresso ao passado bem mais pronunciado do que o inicialmente previsto – Fernando Santos não só tem pensado quase exclusivamente no presente como também poderá estar a abrir a porta a cisões mais profundas dentro de uns anos. Precisamente quando alguns dos atuais disserem o adeus definitivo.

Reconheça-se que pelo meio, no entanto, há alguns bons sinais. O maior talvez seja de Danilo Pereira, com o que fez este ano pelo Marítimo – agora reconhecido e antes de, como costume, se transferir para um grande – a poder ser transportado, com mais-que-provável crescimento, para a Seleção. É ele, entre os que não estão com as seleções mais jovens, aquele que poderá acrescentar mais coisas à equipa nacional a médio prazo.

Não é propriamente novo, mas o Mundial sub-20 e o Europeu de sub-21 voltam a chamar-nos a atenção para as boas sensações que estas seleções e que alguns dos seus valores emergentes nos trazem. Se João Mário, William Carvalho, Rafa, Raphael Guerreiro e, mais recentemente, Bernardo Silva têm merecido alguma atenção por parte do selecionador, nomes como Gonçalo Paciência – e André Silva nos sub-20 – alimentam expetativas de renovação na posição específica de ponta de lança, tal como José Sá, Paulo Oliveira, Tobias Figueiredo, Ilori e, com mais espaço de maturação, André Moreira, João Nunes, Riquicho e Rafa se colocam na pole position para suprir ausências na defesa. O mesmo se vê nas alas com Mané, Ivan Cavaleiro, Ricardo, Nuno Santos, Ivo Rodrigues, Gelson Martins, Gonçalo Guedes, ou no miolo do meio-campo, se acreditarmos, como acreditamos, em Podstawski, Guzzo, Francisco Ramos, Sérgio Oliveira, Rúben Neves, Rony e Tozé.

E estou certamente a esquecer-me de muita gente de enorme valor. Não é, como sabem, por mal.

Não sabendo onde chegarão os sub-21, que ainda parecem longe de estar no seu melhor no Campeonato da Europa, a chegada do Brasil à final e a forma como Portugal chegou a estar perto várias vezes do golo decisivo nos quartos de final provam que os sub-20 lusos estão entre os melhores do seu escalão. Muitos estão mesmo lá no topo. E a equipa de Rui Jorge, pela campanha que fez e pelos bons resultados, continua a merecer justamente bastante crédito.

A formação não acaba aqui e as equipas B continuarão a ser importantes, mas depois destas é preciso que os clubes sintam que o seu papel não acabou e que estes nomes não fiquem entregues ao seu próprio «destino». Escolher bem, com critério, num momento tão crucial da carreira poderá ser a diferença entre conseguir um puro-sangue ou não. E escolher bem será dar minutos de qualidade a quem fique e planear muito bem a vida de quem sai, potenciando as suas próprias características. Sim, é verdade que nem sempre é possível, mas partir com esse princípio já fará alguma diferença.

Para os clubes e para a Seleção, porque uns não passam sem os outros, não faz e não fará sentido que tenhamos andado anos a fio a dizer que nos faltavam trinta metros no ataque e não aproveitar os projectos que agora nos batem à porta.

Será estúpido dizer que o futebol português não produz laterais consistentes e nem sequer lhes dar oportunidade de provar o contrário. Ou que estamos a ficar sem extremos, quando é o que mais temos na antecâmara dos AA.

A formação, como disse, já se pôs em bicos de pés. Mas não vai aguentar nessa posição muito tempo.

LUÍS MATEUS é subdiretor do Maisfutebol e pode segui-lo no TWITTER. Além do espaço «Sobe e Desce», é ainda responsável pelas crónicas «Era Capaz de Viver na Bombonera» e «Não crucifiquem mais o Barbosa» e pela rubrica «Anatomia de um Jogo».