«Não é fácil ser jogador quando se tem um treinador como eu»

Nem jornalista, nem comentador, muito menos um adversário direto. Sérgio Conceição tem a crónica tendência para baixar os índices de simpatia em vários quadrantes. Pelo estilo, pela linguagem, por comportamentos pontuais que colocam a imagem do treinador em causa.

Mas nada disso importa – ou não deve importar – quando se avalia o parâmetro essencial no mundo do futebol e em todas as áreas de atividade: a competência.

«Sei que não sou simpático»

Aos 40 anos, Sérgio Conceição conserva a aversão a porreirismos, um expediente que costuma apresentar bons resultados na sociedade portuguesa.

Lembro-me, por exemplo, de um encontro imediato à porta do Estádio do Dragão, em 2007/08, quando o então jogador representava o Qadsia SC do Qatar. Abordei-o para uma curta entrevista, ali mesmo, mas a resposta foi a habitual.

«Humm, amigo, agora não, não me apetece.»

Já sabia o que me esperava, pois essa tinha sido a postura ao longo das épocas no Standard Liège. Torna-se difícil gostar de alguém que nos vira as costas.

Porém, Sérgio Conceição não precisa certamente de amigos. Nem eu. Merece – isso sim – uma avaliação justa ao seu desempenho e o reconhecimento do trabalho realizado como jogador e treinador.

Nesse parâmetro as dúvidas esbatem-se: estamos perante um dos melhores técnicos da Liga portuguesa.

Deixou a Académica à frente do Sp. Braga (9º lugar) na última edição da prova e rumou ao Minho para recolocar os arsenalistas na montra europeia. A quarta posição e a presença na final da Taça de Portugal validam o saldo extremamente positivo.

A equipa de Sérgio Conceição foi, ainda, a única a vencer por duas vezes o Benfica, futuro bicampeão nacional. Algo que FC Porto e Sporting não conseguiram, por exemplo.

Pelo caminho surgiram episódios polémicos

Em dezembro de 2014, após empatar com o V. Guimarães, garantiu que o Sp. Braga terminaria a época à frente do rival minhoto. No duelo com o Marítimo, o seu comportamento foi criticado pelo presidente dos insulares, Carlos Pereira. Em janeiro, decretou um blackout. Já em abril, depois de vencer em Vila do Conde, anunciou que a sua equipa tinha garantido a presença no Jamor. 

«Quando disse que o Sp. Braga já estava na final do Jamor não fui bem interpretado, e por isso tomei a iniciativa de ligar ao Pedro Martins para lhe dizer que as minhas afirmações não estavam relacionadas com o trabalho que ele estava a realizar no Rio Ave e que foi apenas uma mensagem para o meu balneário.»

Sérgio Conceição deveria gerir melhor o discurso mas acaba por ser um reflexo da sua imagem como jogador: guerreiro, abnegado, incansável. Por vezes imprudente.

Vê-se ali um pouco de Jorge Jesus, na forma, e não é difícil prever a chegada a um dos três grandes a médio prazo.

Jamais diremos que Sérgio Conceição é um tipo porreiro. Mas tem a qualidade imprescindível: competência. Não é preciso gostar da personagem para fazer o justo reconhecimento.

Entre Linhas é um espaço de opinião com origem em declarações de treinadores, jogadores e restantes agentes desportivos. Autoria de Vítor Hugo Alvarenga, jornalista do Maisfutebol (valvarenga@mediacapital.pt)