«4x4x3» é um espaço de análise técnico-tática do jornalista Nuno Travassos. Siga-o no Twitter.

Rúben Neves integra uma linhagem de jogadores que combate aquela ideia gasta de que o «6» tem de ser um «trinco». Como se fosse obrigatório ter ali um segurança com cara de mau a barrar a entrada no último terço. Não quer dizer que estes perfis sejam censuráveis, ou menos nobres, mas também ninguém decretou a obrigatoriedade de ter ali alguém alto e espadaúdo.

Até pode fazer sentido ter ali um jogador focado quase em exclusivo nos momentos defensivos do jogo, aplicando maior ou menor dimensão física naquela zona do terreno. E nem precisamos estar a falar de uma equipa com uma abordagem mais expectante, mais submissa. Até por ser uma formação com vertigem ofensiva, que precise de alguém para esconder os desequilíbrios inerentes a essa tentação.

Todas as soluções são válidas, naturalmente, e tornam-se eficazes quando a equipa consegue encontrar complementaridade. Se o «trinco» contribui pouco para a construção de jogo, então a equipa precisa de encontrar formas de viver bem com isso. Da mesma forma que o «6» pode ser alguém mais forte com a bola nos pés do que a recuperá-la, desde que a equipa tenha alternativas para garantir uma boa organização defensiva.

É este encaixe de peças que Fernando Santos parece ter encontrado no meio-campo da Seleção, e que permitiu finalmente ter espaço para Rúben Neves. Sem prescindir de William Carvalho, agora mais adiantado no terreno. A equipa das quinas melhorou muito a primeira fase de construção, com a entrada do médio do Wolverhampton, e com isso ganhou capacidade para gerir o jogo com bola. Sem perder a solidez defensiva.

Fica assim a ideia que este ciclo da Seleção começa em Rúben Neves. Não propriamente como responsável maior dos sinais positivos, mas pelo efeito dominó que a sua entrada parece ter gerado na forma de jogar da equipa. No bom sentido.