A Islândia tem menos de 300 mil habitantes e estavam três mil no estádio Ullevaal, em Oslo, no jogo que pôs a equipa no play-off do Mundial 2014. Um por cento da população daquele que pode tornar-se o país mais pequeno de sempre a chegar à fase final de um Campeonato do Mundo e que é um dos potenciais adversários de Portugal nos 180 minutos que faltam. Dizer que este foi o maior dia da história do futebol da Islândia é dizer pouco. 


Há dois ou três anos isto era impensável. Quando começou a qualificação a Islândia andava pela 90ª posição do ranking da FIFA (hoje é 54ª). Futebol não era seguramente a primeira coisa que vinha à ideia de quem quer que fosse quando se falava no pequeno país nórdico, que até aqui era raramente notícia. Acontecia quando algum vulcão de nome impronunciável atrasava aviões, aconteceu quando a crise financeira levou o país à bancarrota, ou quando o país levou a tribunal os responsáveis políticos pela crise


Hoje a Islândia é notícia por causa do futebol, por causa de uma seleção assente em jovens de qualidade a jogar em grandes campeonatos da Europa com a experiência de veteranos como Gudjohnssen, renascido nesta qualificação, orientados por uma velha raposa: Lars Lagerback, o treinador que levou a Suécia a aos Mundiais de 2002 e 2006, mais aos Europeus de 2000 e 2004, além de ter estado com a Nigéria no Mundial 2010.


Lagerback chegou à Islândia há dois anos e encontrou uma geração com qualidade, que já tinha conseguido chegar à fase final do Europeu de sub-21 de 2011. Essa equipa de esperanças já tinha Kolbeinn Sigthorsson, o avançado do Ajax, Gylfi Sigurdsson, o médio do Tottenham, Johann Gudmundsson , extremo do AZ Alkmaar, ou o defesa Aron Gunnarsson, jogador do Cardiff e atual capitão da seleção. Também já lá estava Eggert Jonsson, um dos dois internacionais islandeses a jogar em Portugal, ambos no Belenenses. O outro é Helgi Danielsson, já veremos o que ele tem para dizer mais à frente.


A Islândia já sabia que tinha uma equipa para o futuro, mas o futuro está a chegar mais cedo do que muitos previam.


O apuramento para o Mundial 2014 começou com uma vitória sobre a vizinha Noruega. Depois não correu tão bem, seguiram-se uma derrota em Chipre, uma vitória na Albânia e nova derrota com a Suíça. Não estava famoso. A abrir 2013, uma vitória e uma derrota sobre a Eslovénia mantinham tudo em aberto.


Essa derrota com a Eslovénia trouxe o protagonista que faltava a esta história. Eidur Gudjohnssen. O islandês mais famoso de sempre andava longe da seleção e do futebol de alto nível desde que tinha deixado Inglaterra. Uma lesão grave pelo Olympiakos, em outubro de 2011, tinha-o deixado de lado, perto do esquecimento. Depois de uma passagem pelos Estados Unidos foi para a Bélgica, para o Cercle Brugge. Parecia o ocaso, mas foi aí que Lagerback decidiu chamá-lo.


Gudjohnssen estreou-se nesta campanha nessa derrota com a Eslovénia, como suplente. E depois, foi a Suíça.


O jogo que fez a diferença foi no início de setembro, em Berna. A Suíça vencia por 3-1 ao intervalo e a Islândia deu a volta. Gudjohnssen, 35 anos, saiu do banco aos 46 minutos e a equipa cresceu com ele. Acabou 4-4. Foi um momento de viragem, quando os jogadores levaram os islandeses a acreditar que era possível.


A equipa já acreditava. A auto-confiança é uma das marcas desta seleção e muito do mérito é de Lagerback. «O Lars tem sido uma muito boa influência nos jovens em particular. Deu-lhes uma abordagem muito profissional, baseada numa forte ética de trabalho e em entrarem em cada jogo a pensar que podiam ganhar. Nunca teve medo de dizer que nos podíamos qualificar para os play-offs, ou mesmo lutar pelo primeiro lugar. Isso deu a toda a gente muita confiança», explicava recentemente ao «Guardian» um jornalista islandês, Vidir Sigurdsson.


Seguiram-se as vitórias sobre Albânia e Chipre e, esta noite, a decisão com a Noruega. A Suíça já tinha garantido o primeiro lugar, a Islândia chegava aqui com um ponto de vantagem sobre a Eslovénia. O nome do adversário ajudou a alimentar a motivação de jogadores, e adeptos.


Parentes pequenos da família nórdica, os islandeses não esconderam que fazer a festa frente à Noruega teria sabor especial. «Eles olham-nos de cima, nem somos o irmão mais novo, somos o primo mais novo. Adoramos ganhar-lhes», dizia outro jornalista, Tomas Thordarson, ao «Independent».


Assim foi. Chegou um empate, aliado à derrota da Eslovénia na Suíça, para a Islândia fazer a festa na Noruega. Agora eles vão ao play-off. E quem preferem? A avaliar pela primeira reação de Danielsson, o médio do Belenenses, a rivalidade nórdica pesa. «Acabei de me qualificar com a Islândia para os play-offs do Mundial! Sentimento indescritível. Agora a Suécia na Death Star Arena?», escreveu Danielsson no Twitter. Não é possível, porque a Suécia não conseguiu ser cabeça de série, mas dá uma ideia do espírito.


Veja a festa dos jogadores da Islândia em Oslo