Primeira dificuldade quando se procura constituir uma selecção portuguesa só com craques de bigode: os critérios da convocatória têm de ser rigorosos e coerentes. Só podem ser considerados jogadores da década de 70 em diante, e todos eles têm de ter jogado na selecção principal.

O top-ten dos bigodes do futebol mundial

Automaticamente excluídos, ficam os bigodes de uso intermitente (adeus João Alves, José Torres, Artur Jorge, que só optaram pelo bigode nos últimos anos da carreira) ou bigodes disfarçados com outros adereços hirsutos como barbas, peras e patilhas. Afinal um bigode é um bigode, e tem de valer por si próprio, sem atenuantes.

Segunda dificuldade: os bigodes não têm distribuição coerente pelos vários sectores de uma equipa. Há abundância de escolha para guarda-redes - e é uma pena que mitos como Fonseca (Varzim e F.C. Porto) e Amaral (V. Setúbal e F.C. Porto) tenham de ficar fora desta lista. Os defesas também estão muito bem representados: Humberto Coelho é o líder indiscutível de um grandioso elenco. Mesmo no que diz respeito a médios o panorama é animador ou não fosse o golo de Carlos Manuel em Estugarda, ainda hoje, o ponto mais alto da história pilosa do desporto nacional. Mas não há como disfarçá-lo: o futebol português em geral, e a selecção em particular, tem um notório défice de bigodes na zona do ponta-de-lança.

Uma selecção, um país...vários bigodes

Qual o ponto comum a Jordão, Nené, Manuel Fernandes, Fernando Gomes, Pauleta ou Nuno Gomes, além dos muitos golos marcados com a camisola das quinas? Pois é: salvo alguns devaneios episódicos, apresentavam-se sempre de lábio superior lamentavelmente escanhoado.

Puxando atrás o filme das memórias, só Jacques, avançado do F.C. Porto no início dos anos 80, integra esse restrito grupo de elite dos verdadeiros homens-de-área com bigode. O academista Ribeiro, presença marcante na selecção do Mundial-86 (era o indispensável terceiro bigode dos 22 seleccionados, com Bento e Carlos Manuel) e o portista Vermelhinho (chamado ao Euro-84, tanto por causa do fantástico golo marcado em Aberdeen como pelo robusto bigode que o envolveu) acabam, assim, por ser escolhas óbvias como alternativas aos talentos farfalhudos de José Alberto Costa e, claro, Fernando Albino de Sousa Chalana, porventura o bigode mais empolgante que alguma vez calçou um par de chuteiras.

Falta falar do cargo de seleccionador, que por razões óbvias é atribuído a Artur Jorge, de forma vitalícia. E, neste particular, é impossível esconder um lamento: o de que Carlos Queiroz, em 2008, não tenha resistido à tentação de quebrar o glorioso ciclo de 20 anos em que, para se comandar a equipa nacional, o primeiro requisito era o de um lábio superior ricamente ornamentado.

Desde que Juca passou o testemunho a Artur Jorge, em 1990, a tradição foi mantida com rigor cirúrgico. Mesmo quando o poder do bigode ia decaindo na sociedade, a corrida de estafetas entre os bigodes de Queiroz (primeira versão), Nelo Vingada, António Oliveira, Humberto Coelho e Scolari constituiu uma das páginas mais gloriosas da capilaridade desportiva, no país e no mundo.

Guarda-redes: Bento, Zé Beto e Jesus;

Defesas: Pietra, Gabriel, Álvaro, Veloso, Humberto Coelho, Bastos Lopes, Simões e Adelino Teixeira;

Médios: Frasco, Carlos Manuel, Toni, Oliveira, Rodolfo e Romeu;

Avançados/extremos: Vermelhinho, Ribeiro, Jacques, Moinhos, Chalana e Costa.

Seleccionador: Artur Jorge