Cristiano. É impossível começar esta crónica por outro lado. De mal-amado a herói do P. Ferreira foi a distância de um pontapé certeiro. O brasileiro, recorde-se, não se apresentou no início da época, andou desaparecido durante semanas e bateu o pé por uma transferência para um clube maior. Uma transferência que não aconteceu.
Regressou a P. Ferreira há cerca de uma semana e foi chamado por Paulo Sérgio para o jogo desta noite. Começou no banco, mas foi o primeiro a entrar quando as coisas ficaram feias. A meia-hora do fim. Então voltou-se ao início, à parte em que se disse como Cristiano se tornou mal-amado. Assobiado pelos próprios adeptos pacenses.
O brasileiro engoliu o orgulho, mesmo sabendo que cada bola perdida, cada passe mal medido, cada risco pouco calculado significava a reprovação gritada nas palavras mais feias. Quase sobre o fim, a pouco mais de cinco minutos do fim, um cruzamento de Jorginho da esquerda apanhou Cristiano solto ao segundo poste. Pé direito e golo.
Num segundo apenas, com o pé errado, o esquerdino fez um remate para a história do P. Ferreira. A equipa garantiu então a vitória e a continuidade em prova na Liga Europa. Cristiano, em boa verdade, garantiu o primeiro apuramento do P. Ferreira numa competição europeia. Garantiu até o primeiro golo do P. Ferreira numa competição europeia.
Cristiano sim, mas também o bom senso de Paulo Sérgio
Segue-se agora o Bnei Yehuda Telavive, de Israel, na terceira pré-eliminatória da prova, já na próxima terça-feira. O tempo, por ora, é de festa em Paços de Ferreira. A equipa teve de sofrer para eliminar o Zimbru Chisinau, mas fê-lo sobre a hora. O mais importante foi garantido. A ilusão continua a viver, a formação de Paulo Sérgio pode alimentar o sonho da Liga Europa.
É verdade que nem tudo foram rosas, senhores. O Paços demorou quase três horas a marcar um golo a um adversário limitado com é este Zimbru. Fartou-se de atacar, de criar perigo, de rematar e de fazer brilhar o guarda-redes Chirinciuc. Um nome que também merece destaque nesta crónica. Protagonista de seis ou sete defesas decisivas.
No final valeu Cristiano, lá está. E Paulo Sérgio, claro. O treinador teve uma atitude inteligente quando fez entrar o brasileiro. Provavelmente contra tudo e contra todos. Percebeu que era necessário acrescentar um talento frio, lançou o avançado mesmo que o rigor aconselhasse a não o fazer. Foi corajoso e sobretudo inteligente. Foi feliz.
FICHA DE JOGO:
Estádio D. Afonso Henriques, em Guimarães
Espectadores: 1 658 espectadores
Árbitro: Firat Aydinus (Turquia)
Intervalo: 0-0
P. FERREIRA: Cássio; Filipe Anunciação, Ozeia (Manuel José, 76m), Ricardo, Kelly e Jorginho (Pedro Queirós, 90m; Leonel Olímpio e Pedrinha; Carlitos, Romeu Torres e Leandrinho (Cristiano, 63m).
Suplentes: Coelho, Mario Rondon, Leal e Fábio Pacheco.
Treinador: Paulo Sérgio.
ZIMBRU CHISINAU: Chirinciuc; Andronic, Clonin, Erhan e Ternavschi; Hvorosteanov; Gheorge Andronic (Onila, 71m), Antoniuc e Demerji; Oleg Andronic e Sofroni (Sidorenco, 60m).
Suplentes: Calancea, Rojii, Catan, Luchita e Secrieru.
Treinador: Ivan Tabanov.
GOLOS: Cristiano (83m)
Disciplina: Ehran (29m), Andronic (42m) e Cristiano (84m).