P.S. (Para Seguir) é um espaço assinado pelo jornalista Nuno Travassos, que pretende destacar jogadores até aos 21 anos. 

Depois de Victor Osimhen, reforço garantido esta época pelo Lille, o «P.S. – Para Seguir» continua de olho no talento africano que dá cartas na Ligue 1, e destaca agora Eduardo Camavinga.

Com apenas 16 anos (faz 17 dentro de um mês), o médio do Rennes está a encantar França, a ponto de a federação gaulesa estar a acompanhar proximamente o processo de naturalização, na perspetiva de assegurar este talento em breve.

Camavinga nasceu em Cabinda (Angola), de ascendência congolesa, mas com cerca de dois anos mudou-se com a família para França.

Aos sete anos largou o judo e começou a jogar no AGL-Drapeau. Esteve quatro anos no emblema de Fougères, ponto de partida da onda de solidariedade que ajudou a família Camavunga por altura do incêndio que destruiu a casa que estava a construir.

Mas pouco tempo depois, ainda no ano de 2013, Eduardo transferiu-se para o vizinho Rennes, um dos símbolos maiores do futebol francês, nomeadamente ao nível da formação.

Assinou contrato profissional no final de 2018, logo depois de ter festejado o 16º aniversário, e não perdeu muito tempo para chegar à equipa principal. A estreia proporcionou-se a 6 de abril de 2019, frente ao Angers, e a 1 de maio, diante do Mónaco, tornou-se o primeiro jogador nascido em 2002 a jogar como titular numa das cinco maiores ligas europeias.

Terminou a época com lugar no onze, e conserva esse estatuto desde então, graças a exibições arrebatadoras como aquela que assinou no triunfo sobre o campeão PSG. Camavinga foi mesmo eleito o melhor jogador da Ligue 1 em agosto, e no mês seguinte ainda ouviu rasgados elogios de André Villas-Boas antes da visita do Rennes ao Velódrome.

«É um jovem excecional. Pode jogar em qualquer posição. Quando cheguei ao Marselha dediquei algum tempo a observá-lo, e foi impressionante. Perguntei ao Andoni (ndr: Zubizarreta, o diretor desportivo) se podíamos fazer uma oferta, mas ele disse-me que pediam 40 milhões de euros», revelou o técnico português.

Outra declaração que vale a pena recuperar é a de Ben Arfa, tantas vezes polémico, mas absolutamente certeiro na forma como descreveu Camavinga, com quem partilhou o balneário na época passada.

«É um monstro. Tecnicamente e fisicamente. Tudo o que faz é perfeito. Para mim é a definição do médio moderno. Não há nada que não saiba fazer. Defende, desarma, mete a cabeça, cria, marca, oferece golos. É possante, mas com um pé esquerdo dotado tecnicamente. É inteligente e elegante. É raro ver um jogador como ele nesta idade», resumiu o internacional francês à ESPN.

Completo. É essa a palavra que melhor define Camavinga, por mais ousado que seja aplicá-la a alguém com 16 anos. Pela (rara) capacidade para promover consensos entre aqueles que ficam rendidos à airosidade daquele pé esquerdo e aqueles que dão valor acrescido à dimensão física.

Eduardo mostra uma maturidade que está muito acima da idade, patente na capacidade para interpretar o jogo. Um médio esguio, de passada larga, aproveitada para sair rapidamente na pressão ou para arrancar com a bola conduzida.

Um jovem que não renega a responsabilidade de pegar no jogo, e particularmente hábil a virar o jogo para o flanco contrário, ainda que por vezes esteja tão focado nessa solução que esqueça um pouco a verticalidade que também é capaz de oferecer.

Mas um médio de campo cheio, com uma gama imensa de recursos para aprofundar.