P.S. (Para Seguir) é um espaço assinado pelo jornalista Nuno Travassos, que pretende destacar jogadores até aos 21 anos. 

Seis golos nos últimos dois jogos. Se isso não é dar nas vistas, então o que será? Ainda para mais se um dos golos for marcado assim:

Nos programas televisivos de talentos musicais ouvimos dizer muitas vezes (sobretudo aos mais novos) que um “não” está longe de significar o fim do que quer que seja. No futebol de formação é tão ou mais verdade.

Chiquinho começou a jogar na Associação da Torre, com oito anos, mas na temporada seguinte já estava no Sporting. Esteve ligado ao emblema leonino durante uma década, das escolas aos juniores, mas neste último patamar ficou sem espaço.

Teve uma primeira passagem pelo Estoril no primeiro ano de júnior, e na temporada seguinte foi cedido pelo Sporting ao Tondela. Com as portas do futebol profissional fechadas no eixo Alvalade-Alcochete, acabou por regressar ao Estoril.

Foi já como jogador «canarinho» que se tornou internacional, ao fazer quatro jogos pela seleção sub-20 na Elite League, em finais de 2019.

Pouco depois, no início de 2020, fez a estreia pela equipa principal do Estoril, frente à Académica. Nesta altura soma 20 jogos nesse patamar, e dois golos apontados.

A afirmação tem sido gradual, até porque a concorrência é interna, ou não estivesse o Estoril na liderança da II Liga, mas enquanto espera por oportunidades na equipa de Bruno Pinheiro, Chiquinho tem brilhado na equipa de sub-23, que luta pelo título na Liga Revelação. Disputou nove jogos na prova e marcou sete golos, seis dos quais nos últimos dois jogos, já na fase de apuramento do campeão.

Chiquinho tem evoluído consideravelmente no plano físico, a nível muscular, e isso, mesmo não sendo o mais importante em campo, tem sustentado a evolução técnica.

O extremo do Estoril é um extremo à amiga. Também pode jogar como segundo avançado, mas sempre à procura de espaço, de liberdade para soltar o futebol de rua que tem nas pernas. Adora um bom duelo individual, tem prazer em ir para cima do adversário e recorrer à ampla gama de atributos técnicos que alia à velocidade.

Esse sempre foi o seu forte, mas a cada jogo que faz nota-se uma evolução tática, uma abordagem mais madura, sem perder a irreverência que o caracteriza. Não é uma rebeldia inconsequente, no sentido em que Chiquinho está mais sólido a definir, tanto a servir os colegas como a assumir a finalização (inclusive na cobrança de bolas paradas).

Chiquinho já sabe, por experiência própria, que ficar num patamar alto custa tanto quanto lá chegar. Mas às vezes é preciso sair um bocado para valorizar mais a vista de lá.

Talvez seja uma questão de tempo.