P.S. (Para Seguir) é um espaço assinado pelo jornalista Nuno Travassos, que pretende destacar jogadores até aos 21 anos.  

Quem disse que os submarinos têm de ser embarcações lentas, difíceis de manobrar e sombrias? Na cidade espanhola de Vila-real encontramos um submarino rápido, ágil e alegre. Amarelo, claro. Mas argentino.

O Mar Chiquita, ali bem perto de Balnearia, acolheu o batismo. Mas foi de Buenos Aires, de Avellaneda, que zarpou rumo à Europa. Cruzado o Oceano Atlântico atracou em Castelló, para tornar-se uma atração em Vila-real.

Fala-se de Luciano Vietto, porventura a maior revelação da Liga espanhola 2014/15. Em sete meses ao serviço do Villarreal, o avançado argentino de apenas 21 anos marcou tantos golos quantos trazia no currículo profissional quando assinou, proveniente do Racing Avellaneda: dezoito.

Tornou-se coqueluche de «La Academia», para desgosto do Estudiantes de La Plata, de onde foi dispensado aos 15 anos. Nessa altura pensou desistir do futebol. «O meu pai perguntou se queria continuar a jogar, dedicar-me aos estudos ou ficar com ele, que tinha um concessionário de automóveis usados. Em determinado momento imaginei-me a vender carros com ele», contou um dia.

A carreira prosseguiu no Racing, depois de um período à experiência. Estreou-se pela equipa principal com 17 anos, em outubro de 2011, pela mão de Diego Simeone. Teve de esperar quase um ano para ser titular pela primeira vez, já o treinador era outro (Luis Zubeldia), mas saltou logo para a ribalta com três golos. Um «hat trick» perfeito: o primeiro golo de pé direito (que pontapé para a estreia a marcar!), o segundo tento de cabeça e o terceiro com o pé esquerdo.



Nas semanas seguintes conquistou a titularidade, e acabou a temporada com treze golos. A época seguinte foi menos produtiva, coletiva e individualmente (apenas cinco golos), mas ainda assim motivou o interesse de vários clubes europeus, e o Villarreal contratou-o no início da presente temporada por 5,5 milhões de euros.

Nesta altura soma 18 golos em 37 jogos pelo «submarino amarelo». Foi eleito o melhor jogador da Liga espanhola em dezembro, mês em que marcou o golo da vitória do Villarreal no reduto do Atlético de Madrid. Uma «traição» a Simeone, o técnico que «apadrinhou» a estreia como profissional.
 
As exibições recentes frente a Barcelona e Real Madrid reforçaram o protagonismo do argentino, que no Bernabéu saiu do banco para agitar por completo o encontro. Fez a assistência para o golo do empate, apontado por Gerard, e viu Casillas negar-lhe o golo da vitória.

«Lucky» (como chamava a mãe, ou Lucho, como prefere) encaixou muito bem no tradicional 4x4x2 de Marcelino. O Villarreal joga sem uma referência mais fixa, opta por dois avançados móveis, ainda que Vietto seja, por norma, o elemento mais dinâmico. A sua maior virtude é a forma como ataca o espaço, seja nas costas da defesa contrária ou entre linhas.

Franzino, não tem poder físico para suportar o choque no meio da confusão, mas compensa isso com uma fantástica agilidade. Com uma passada muito curta, aparece rapidamente no espaço e depois roda para a baliza muito rapidamente, sem permitir o contacto ao adversário. Depois ataca a baliza com verticalidade, com suporte na qualidade técnica.

Pode jogar a «9», sobretudo se a estratégia passar por saídas rápidas para o ataque, mas funciona melhor como segundo avançado, até pensando no salto para clubes com outros objetivos. Analisá-lo na perspetiva de um goleador é limitativo, mas os números revelam elevada eficácia na finalização.