P.S. (Para Seguir) é um espaço assinado pelo jornalista Nuno Travassos, que pretende destacar jogadores até aos 21 anos. 

«Aleluia».

Foi esta a expressão utilizada por Alejandro Sabella depois de ter visto duas ou três jogadas de uma promessa do Estudiantes, clube que serviu enquanto jogador e treinador. Mais tarde, ao conhecer pessoalmente o jovem Dário Sarmiento, o antigo selecionador argentino até se terá ajoelhado em jeito de vénia, segundo contou o próprio jogador à ESPN.

Sabella faleceu no passado dia 8 de dezembro, aos 66 anos, e entre o luto e as homenagens houve quem recordasse (na Argentina e não só) a expectativa que «Pachorra» depositava no menino de apenas 17 anos.

No Estudiantes desde 2009, Darío estreou-se pela equipa principal a 5 de outubro de 2019, frente ao Huracán. Tinha apenas dezasseis anos, seis meses e um dia.

O treinador do emblema de La Plata era Gabriel Milito, que por esses dias recusou ceder Sarmiento à seleção de sub-17 que ia disputar o Mundial da categoria, ainda que o selecionador fosse o ex-benfiquista Pablo Aimar, antigo colega de equipa no Saragoça e na «albiceleste».

Milito deixou o comando do Estudiantes em março deste ano, mas ainda utilizou Sarmiento em oito jogos, aos quais se somam cinco encontros sob o comando do atual técnico, Leandro Desabáto.

O trajeto na equipa principal «Pincharrata» ainda é curto, mas pode não se prolongar muito mais, a avaliar pelas notícias que dão como certa uma transferência para o Manchester City em meados de 2021, já depois de atingida a maioridade.

Darío Sarmiento é um jogador que remete para as memórias (cada vez mais raras) do futebol de rua. Um talento puro, que precisa ser enquadrado na exigência competitiva, mas sem perder a irreverência que o torna especial.

O prodigioso pé esquerdo promove as comparações com Lionel Messi, assim como a tendência para jogar a partir da direita, ou então, em alternativa, mais solto no corredor central. A exímia capacidade técnica permite-lhe sair com facilidade do drible, mas Sarmiento precisa, com o tempo, de tornar-se mais eficiente na definição (zero golos marcador e apenas uma assistência em treze jogos).

A baixa estatura é pouco ou nada relevante, mas taticamente precisa também de significativa maturação. E aqui não se fala apenas do trabalho defensivo, até porque jogadores com este perfil não podem estar excessivamente amarrados a essas preocupações, sob pena de retirar-lhes o espaço para impor a superioridade técnica.

É justo dizer que há muito trabalho pela frente, mas Darío Sarmiento tem uma base de talento acima da média, e é isso que entusiasma. A ponto de imaginarmos que, daqui a uns tempos, talvez seja curto falarmos dele como o jogador que fez Sabella ajoelhar-se para a vénia.

[foto: Estudiantes]