P.S. (Para Seguir) é um espaço assinado pelo jornalista Nuno Travassos, que pretende destacar jogadores até aos 21 anos. 

Kai Havertz foi vendido ao Chelsea por 80 milhões de euros, mas os farmacêuticos do Bayer Leverkusen já tinham uma segunda dose em desenvolvimento: Florian Wirtz, de apenas 17 anos, contornou às circunstâncias impostas pela pandemia de covid-19 e teve efeito imediato na equipa alemã, à qual chegou em janeiro de 2020.

Para garantir este jovem talento o Bayer Leverkusen teve de colocar no gelo o pacto de não-agressão com os rivais Borussia Monchengladbach e Colónia, relativo a jogadores da formação. Wirtz estava desde 2011 no Colónia, mas acabou por seguir os passos da irmã Juliane, dois anos mais velha, que já está no Bayer desde 2018.

Os irmãos Wirtz chegaram a jogar juntos no Grün-Weiß Brauweiler, treinados pelo pai, Hans-Joachim, que em 1997 se tornou também presidente deste modesto emblema. Juliane também passou pelo Colónia antes de assinar pelo Bayer Leverkusen, clube ao qual o irmão chegou então no início de 2020. Embora já tivesse assinado com esse aliciante de uma oportunidade a curto prazo na equipa principal, Florian foi integrado inicialmente na equipa de sub-19. Mas depois, com a pausa forçada pela pandemia de covid-19, o médio conseguiu tempo para conquistar o seu espaço no plantel às ordens do holandês Peter Bosz.

Wirtz foi titular logo no primeiro jogo da retoma, a 18 de maio, em Bremen, tornando-se então o mais jovem de sempre a jogar pelo Leverkusen e o terceiro mais jovem da história da Bundesliga. Tinha feito 17 anos há quinze dias.

Ao quarto jogo estreou-se a marcar, a um tal de Manuel Neuer, na derrota caseira do Leverkusen com o Bayern de Munique. Tornava-se então o mais jovem de sempre a marcar na Bundesliga (17 anos e 34 dias), registo superado entretanto por Youssoufa Moukoko, do Borussia Dortmund (16 anos e 28 dias).

Florian ainda fez nove jogos na (atípica) temporada 2019/20, e agora já vai em 19 presenças, com cinco golos marcados e seis assistências. Joga como médio interior pela direita, no 4x3x3 habitual do Leverkusen, e por norma é o jogador do setor intermédio que aparece mais adiantado.

Wirtz já disse que aquilo que mais tem aprendido com Peter Bosz é a jogar entre linhas, e essa tem sido uma das virtudes que tem colocado ao dispor da equipa. Apesar da juventude mostra perspicácia a encontrar espaço dentro do bloco defensivo contrário, e depois, como jogador de rotação elevada, mostra assertividade a lançar logo um colega (sobretudo a velocidade de Diaby ou Bailey), ou mesmo a atacar a última linha com a bola controlada.

Mas Wirtz torna-se difícil de controlar porque tem outros trunfos. Porque tanto aparece entre linhas, a decidir com rapidez, como é sagaz a atacar a profundidade, a aproveitar aquilo que sobra dos duelos de Schick com os centrais.

Um jogador tecnicamente evoluído, mas também muito pragmático, bem ao jeito da filosofia de jogo do Leverkusen de Peter Bosz.

O perfil é consideravelmente diferente de Havertz, mas as comparações são naturais, até porque Wirtz já assumiu ter retirado muito da convivência com o agora jogador do Chelsea, sobretudo no que diz respeito à movimentação entre linhas e à capacidade de finalização.

Salvaguardadas as diferenças, é uma segunda dose de talento que os «farmacêuticos» estão a rentabilizar.