P.S. (Para Seguir) é um espaço assinado pelo jornalista Nuno Travassos, que pretende destacar jogadores até aos 21 anos.

A província de Esmeraldas, a norte do Equador, foi berço de alguns dos maiores talentos futebolísticos deste país sul-americano. É o caso do avançado Enner Valencia, treinado por Jorge Jesus no Fenerbahçe, mas também daquele que promete ser o «patrão» da seleção equatoriana na próxima década: Piero Hincapié.

Aos 21 anos já soma 24 internacionalizações, depois da estreia em plena Copa América 2021, e da participação no recente Mundial do Qatar, sempre sob orientação de Gustavo Alfaro.

Piero começou a jogar em clubes locais (Escuela Refinería e academias do Emelec e Barcelona), e depois passou por Norte América e Deportivo Azogues, antes de chegar à valiosa academia do Independiente del Valle, pouco antes do 15.º aniversário.

Em 2020 venceu a versão sub-20 da Taça Libertadores, ao lado de Moisés Caicedo (agora no Brighton), mas no ano anterior já tinha feito a estreia pela equipa principal, frente ao Mushuc Runa, com apenas 17 anos de idade.

«É uma das melhores instituições do Equador. No que diz respeito a infraestruturas, tem de tudo. Ensina tudo a crianças a partir dos 10 anos. Todos os valores que possas não aprender por aí, ensinam-te lá. Tens de ir à escola se queres jogar ao fim de semana. Tens todas as condições para seguir em frente. Tinha dois tutores que te obrigavam a acordar às sete da manhã. Batiam-te à porta para ires para a escola. No regresso tinhas de arrumar o quarto e fazer a cama. Ensinam-te a ser homem desde muito cedo. Os valores do clube são os mais importantes, que nunca deixes de sonhar», destacou em tempos, numa entrevista ao AS.

O defesa acabou por fazer apenas três jogos pela equipa principal do Independiente, no entanto, tendo em conta que, em agosto de 2020, foi contratado pelo Talleres.

O nível exibicional apresentado na Argentina, onde jogou com regularidade, abriram-lhe as portas do futebol europeu no espaço de apenas um ano: em agosto de 2021 foi contratado pelo Bayer Leverkusen, por cerca de seis milhões de euros.

Hoje em dia o dia o site especializado Transfermarkt aponta para uma avaliação de 25 milhões de euros.

Hincapié admite que a adaptação à Alemanha não foi nada fácil, mas o empresário acredita que foi a escolha certa: «É um país aborrecido, que não tem muitas distrações, e por isso acertámos», chegou a dizer Manuel Sierra à radio Área Deportiva, queixando-se que o negócio teria sido feito por um valor muito superior se o jogador fosse brasileiro.

Agora sob o comando de Xabi Alonso, em Leverkusen, Piero Hincapié tem mostrado que é um central com um potencial tremendo, mas já um valor seguro.

Na época passada jogou muitas vezes como lateral esquerdo, mas é como central que se destaca mais, seja numa linha de três/cinco ou de quatro.

Esquerdino, tecnicamente evoluído, é muito competente a construir, arriscando até em condução.

Na vertente puramente defensiva mostra uma agilidade acima da média, pela forma como é capaz de jogar na antecipação, sem comprometer a capacidade para controlar a profundidade. Para além disso é forte nos duelos, quando o opositor obriga a uma abordagem mais física.

Um defesa muito completo, que não deve ficar muito tempo em Leverkusen, a troco de uma importante quantia para os cofres do Bayer.