Era uma vez… Quaresma.

Todas as histórias de encantar, pedaços da nossa infância, começam assim. E o Mustang merece a deferência. É raro, muito raro, ver o que vimos no Dragão este domingo. O terceiro golo da noite é um prodígio de potência, colocação e efeitos especiais. Sim, efeitos especiais.

O pontapé de trivela, três dedos na bola e o arco perfeito, é sobre-humano. É um truque saído da manga de um mágico, retocado na mesa de edição de imagem e servido ao público com um halo de perfeição. Que grande golo, caro leitor!

O movimento de Quaresma é o habitual. A finta a procurar a zona central e a parte de fora do pé direito a fazer das suas. A bola explodiu no ângulo superior direito da baliza do Paços e dissipou, com a firmeza de uma alta patente, as poucas dúvidas que ainda assombravam o score.

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Por essa altura, perto do intervalo, o FC Porto já vencia por 2-0 e o Paços jogava encolhido e envergonhado. Um erro de Defendi deixou Jackson inaugurar o marcador, aos 28 minutos, e uma ação faltosa de Hélder Lopes permitira ao colombiano ganhar um penálti que Quaresma transforma tranquilamente em golo.

Sobre este último lance, já agora, duas observações: a falta parece ser feita mesmo dentro da área, embora tenhamos ficado com dúvidas, mas o cartão exibido devia ter sido o vermelho. Jackson estava isolado e em posição frontal.

Até esses dois golos, curiosamente, o FC Porto até nem estava brilhante. O dragão afoga-se, aqui e ali, nas travessuras do subconsciente. Deixa-se enlear nas suas próprias virtudes e transforma a competência na posse de bola num desvario estéril e ineficaz.     

Um atrevimento, no fundo, de uma equipa com sinais de viver ainda na puberdade, com tudo de bom e mau que isso implica.

OS DESTAQUES DO JOGO: Quaresma, obviamente, e também muito Jackson

Depois dos três golos até ao descanso, a segunda parte careceu de intriga, pois Herrera fez logo na reabertura o 4-0 (mais um lance do señor Jackson) e o FC Porto aproveitou para esticar as pernas, pegar no comando e bocejar enquanto esperava pelo toque de saída.

O Paços lá reagiu, teve um pontapé de Seri à barra, mas foi sempre uma sombra do conjunto que já tantos e tão bons jogos fez. Basta recuar no calendário e recordar o ocorrido na Mata Real na noite de segunda-feira.

Os castores sofreram, choraram, sucumbiram como se fossem o Coiote dos desenhos animados. E ainda levaram com um móvel na cabeça, quando Cristian Tello fez o 5-0 num livre direto extraordinário. O dragão lá tirou os pés da mesa e aproveitou para celebrar uma noite ideal para esquecer a amargura da derrota no Funchal.

Este texto, porém, é de Quaresma. O que ele fez, poucos fazem, poucos sabem fazer. Era uma vez…